Corro em minha própria corrida. Derramo-me na auto-estrada que sempre se estende, sempre se prolonga, sempre continua. Na verdade, é ela que corre. Sou apenas levado pelo vento que sopra dos morros e montanhas que cercam onde passo. Percorro com os olhos uma vista que já conhecia. Mas que ali, estática, possui novas formas, novo contorno, nova interpretação.
Grito para o nada. O eco responde em voz alta o que quer. O uivo que vem do alto e o zunir que chega do horizonte pouco se importam. Resta-me decifrar o que está por trás da atmosfera do lugar. Sei que os sinais sugerem algo para além do que aparenta. Não quero adivinhar. Eu corro atrás do conhecimento pra chegar à frente. Vou andando. O asfalto devora meus pés descalços enquanto a dor e o cansaço esperam uma brecha. Em vão. O fascínio não me dá tempo de temer ou de sentir nada que eu não queira. Estou cercado de segredos, enigmas. O que vejo, vejo. Entretanto, o que está atrás das cortinas do espetáculo é o que move passos nunca antes caminhados.
São vários os sentidos e impressões que moldam um pensamento. O raciocínio, quando segue uma linha, descobre que pode bater num trem desgovernado. E assim, espera por um sentido mais aguçado para levar em consideração outras possibilidades, da menor a mais simples. Talvez um pássaro que cruze o céu, uma alma penada que revele o que não se sabe, um mentor, uma pista ou uma obra do acaso não tão acaso assim. A pluralidade só aumenta a tensão. Pareço brincar de “O que é? O que é?”. Perguntam-me, eu respondo corretamente, mas criam uma nova resposta. Fico sem fundamentar meu “eu” entre “eles”.
Do começo ao fim, nada é descartado. Os movimentos do sol, o possível cair da chuva, as viagens das nuvens acima de mim, tudo conta. E quem rege esta grande orquestra? Quem decide o que vai acontecer a seguir? Quem é o Deus que mata, dá vida e manda no destino daquilo que vejo em minha luta pessoal? Meu suor tem em cada gota o desejo quase que insano de devorar a próxima página.
Ah, os mistérios de um livro...
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Gostei.
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