A semana do show dos Stones no Rio começou com coragem. A coragem de entrar em contato com Jamari França, crítico de Rock que muito considero, pra ver se ele tinha alguma informação sobre a chegada da banda. "Eles tocam terça no Uruguai. Então, chegam aqui quarta ou quinta", disse. Apostei na quinta. Chegaram na quarta. Eles, de jatinho particular (ou algo do tipo), vindos do Uruguai, desembarcaram na base aérea do Galeão e foram direto pro Copacabana Palace. Eu, vindo de Volta Redonda, pela viação Cidade do Aço, desembarquei na Rodoviária Novo Rio e fui direto pra casa da minha mãe. Quase a mesma coisa.
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Na quinta, fui pra frente do Copacabana Palace. Plantei igual árvore. Nem tanto. Dei uma caminhada pelo local. Ao lado de alguns paparazzi, vi Ron Wood, na sacada do famoso hotel, tirando umas selfies com o atlântico ao fundo. Coisa chata, né?
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Ainda ao lado dos paparazzi, meu celular tocou. Atendi. Câmera na mão esquerda e celular na direita. Enquanto eu falava com minha esposa, Keith Richards apareceu e desapareceu na mesma velocidade. Só deixou a imagem daqueles cabelos brancos com uma faixa preta ao redor impregnada na minha memória. Uma mulher também apareceu. "Deve ser a babá", disseram. "Babá?", pensei. Era Patti Hansen, mulher de Richards. No mais, reportagens com fãs, fotos, amizades e informações sobre a banda pros próximos dias.
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Na sexta, retornei. Plantei de novo igual árvore na frente do Copacabana Palace. Entretanto, a árvore aqui começou a ficar preocupada até as raízes com as nuvens negras que foram tomando conta de Copacabana. Quando a chuva chegou, ainda insisti por algum tempo. Permaneci no lugar protegendo a câmera das gotas que pareciam cair insistentemente nela. Meu esforço foi recompensado. Darryl Jones, baixista dos Stones, apareceu na porta do hotel. Recebeu um pequeno grupo de pessoas (conhecidos dele, provavelmente). Foram todos pra dentro. Eu fui pra marquise mais próxima. Caiu um temporal daqueles. Quando diminuiu, fui embora. Amanhã teria mais. Amanhã teria Maracanã. Amanhã teria show.
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Sábado chegou. Maracanã. 16:30. Um sol pra cada um. Filas e filas e filas. Não eram grandes. Não eram desorganizadas. Mas eram filas. Filas com aqueles currais, sabe?
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Estava cedo. E desce cedo caminhei pelo estádio. Não estar vestido com uma camisa dos Stones e ter a câmera na mão afastaram vendedores e cambistas. Ali era o fotógrafo e não o fã. Na verdade, era os dois.
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Corre-corre daqui, corre-corre dali. Era a repressão policial com os ambulantes. Estranho. Uns podiam, outros tinham que correr. A chuva (sim, choveu e choveu muito!) deu um tempo nos excessos. Muitos dos ambulantes correram pra vender suas mercadorias na saída do metrô (capas de chuva, por exemplo). Todos viram. A polícia viu. Mas chovia, né? Não saíram do lugar.
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Antes da chuva, porém, a banda Beach Combers tocou embaixo da rampa que liga a saída do metrô ao estádio (onde, minutos mais tarde, muita gente, inclusive eu, se protegeria da chuva). Uma galera foi se juntando, curtindo. Um carrinho de golf parou perto de mim. Desce Bernard Fowler, um dos backing vocals dos Stones. Juntou-se aos mortais, sacou o celular do bolso e fotografou o Beach Combers em ação. Retirou-se sem alarde. Tolinho. Eu o reconheci. Avisei a banda quem esteve tirando fotos deles. Ficaram pasmos.
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Peguei meu celular, tirei uma foto do Beach Combers e tuitei o seguinte: "@bernardfowler took some pics of Beach Combers' Band. This one:" e postei a foto. O cara curtiu! Sim, Bernard Fowler curtiu meu tweet! Era ele mesmo!
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Depois do temporal, retornei com minhas caminhadas pelo Maracanã. Já era noite. Reencontrei um rapaz que conheci lá no Copacabana Palace. Puto! Estava indo embora. Pelo que entendi, ele tinha ganhado uma promoção feita pela banda Doctor Pheabes (uma das bandas de abertura). Era um ingresso pro show dos Stones. Pois bem. O ingresso era falso. Coitado. Despediu-se de mim jurando entrar na justiça contra a banda.
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Além dele, revi amigos como o querido casal Alexandre e Mayma e ainda flagrei Gustavo Kuerten perdido, chegando em cima da hora, sem saber por onde entrar.
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Quando o show começou, lá estava eu do lado de fora do estádio. Eu e muitos outros, tão duros quanto. Todos curtindo. "Ladies and gentlemem, The Rolling Stones!" e vem o riff inconfundível de "Start me up".
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"Tumbling Dice", "Angie", "Like a rolling stone", "You got the silver" e tantas outras músicas. Pena que não consegui curtir em paz. Foi só eu ficar parado, cantarolando as canções, que eles começaram a se aproximar. Eles, os cambistas. O primeiro veio. "Ingresso, irmão?". Pensei em dizer algo para o afastar. "Não, só tenho cinquenta reais aqui". Menti. Lembrei que o mais barato, que eu tinha ouvido, estava na casa dos quatrocentos reais. "Pô, eu teria vergonha de falar isso", provocou. Várias respostas me passaram pela cabeça: "Você sabe quantas pessoas adorariam ter cinquenta reais agora?", "Você sabe o que posso fazer com cinquenta reais?" ou "Esse ingresso vai morrer na tua mão e você vai lembrar de mim". Mas dei ao sujeito o que julguei ser a melhor. "Você é o cambista e eu é que tenho que ter vergonha?". Depois dessa, não restou nada pra ele a não ser ir pra longe, bem pra longe.
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Felicidade de pobre dura pouco, eu sei. Ouvindo a curtindo o som claro dos Stones, passei a ser interrompido por pedintes. Era dinheiro pra isso, dinheiro pra aquilo. Eu só não disse que tinha apenas cinquenta reais porque eles poderiam responder: "Pô, eu teria vergonha de falar isso".
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Em "Midnight Rambler", lembrei que a vida, a nossa vida, continua. Peguei o ônibus antes que tocassem "Jumping Jack Flash", "Brown Sugar" e "Gimme Shelter". Senão, eu não responderia por mim.
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Fotos aqui: http://camnamao.blogspot.com.br/2016/02/o-outro-lado-do-show-dos-stonesrj181920.html
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