A função deste trabalho é identificar e focar em dois pontos das obras citadas no título acima que possam ser objetos de comparação e, desta forma, traçar paralelos possíveis e cabíveis de explanações.
A primeira questão a ser levantada aqui e que está presente nas duas obras é a epopéia que existe nelas. "Panamérica" é uma epopéia pop. Por que uma epopéia? Porque narra os feitos do homem moderno e descreve seus mitos em uma espécie de odisséia do seu cotidiano. Por que pop? Porque trabalha com artistas e conceitos que foram colocados ao posto de mitos do nosso tempo (Marilyn Monroe e os filmes hollywoodianos, por exemplo). Entretanto, não é a questão pop que trabalharemos aqui e sim o fato do livro ser uma epopéia que traz uma coleção de feitos de um eu reiterativo: ele dirige uma megaprodução hollywoodiana chamada "A Bíblia", vive um caso de amor com Marilyn Monroe, tem relaxões sexuais com alguns soldados no quartel, mata outros numa guerrilha na selva venezuelana, bate em integrantes da Klu Klux Klan a golpes de karatê e vive aventuras que misturam escatologia e psicodelismo onde a Estátua da Liberdade esmaga multidões aos gritos e bombas queimam o povo, entre outros acontecimentos. Esta saga de um eu anônimo que reúne elementos de toda a América e coloca os europeus como turistas é a prova de que estamos lidando com uma epopéia.
Já no caso de "Narradores de Javé", a epopéia se faz presente da necessidade de se escrever as histórias do povo do Vale do Javé. A cidade será submersa pelas águas de uma represa e seus habitantes acreditam que a única forma do lugar não sucumbir é tendo suas histórias registradas em um livro como patrimônio histórico. Os moradores, ao contarem suas histórias, procuram melhorá-las pelo fato de saberem que elas ficarão eternizadas para o conhecimento de outras gerações. Estas histórias são as epopéias que serão preservadas ao longo do tempo.
Outro ponto relevante tanto no livro quanto no filme é o progresso capitalista. Em "Panamérica", o progresso aparece num capitalismo onipresente que permeia uma América caótica que rompe completamente com o naturalismo. Enquanto isso, em "Narradores de Javé", o progresso capitalista surge como uma consequência dos novos dias - os quais a pacata cidade não está acostumada - que trazem uma empresa interessada no desaparecimento do lugar para seu próprio desenvolvimento. No final do filme, percebe-se que o progresso atua indiferente das histórias das pessoas da cidade.
A epopéia e o progresso capitalista são questões presentes em ambas as obras e que, igual ou diferentemente, atuam sobre elas tanto na construção das histórias quanto nas características específicas que as fazem ser únicas.
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