Meu poema não tem rima
Nem rima rica, milionária, bilionária
Que ganhou na Mega-Sena
E hoje limpa o cú com nota de cem,
Nem rima pobre, falida, miserável
Que, desdentada,
Fede sem ter onde cair morta.
Meu poema também não oferece várias interpretações
Possibilidades, sentidos,
Comentários que o levem a congressos, seminários,
Paletras, encontros, saraus, mesas de bar
Ele nem mesmo cabe em caderno, livro,
Bloco ou guardanapo.
É poema difícil, inquieto, incômodo, rebelde
Desertado do Olimpo por espetar a bunda dos deuses
Despir suas deusas
Adulterar seu vinho,
Expulso do paraíso como aquele anjo caído
Que hoje crava suas pegadas de fogo
Por essas bandas.
Meu poema tem o sagrado no maldito
O belo no grotesco
O verso no inverso de concursos, disputas, classificações
Dispensa prêmios, honras, aplausos, reconhecimento
O que ele diz, basta
O que ele é, basta.
Poema-desertor
Meu poema não é meu
Eu não sou do meu poema
Apenas temos interesses em comum
Prazeres a dividir
Oriundos de uma simpatia recíproca
Depois ele vai embora
E outro vem
Desacatar a ordem
Dar língua para o mestre
E fazer careta no tribunal.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Família Soneto
Sou neto de um soneto e tenho um pai versificado
Com mamãe fez direito um poema trabalhado
Um poema que, parido, pareceu cair na fria
Estava submetido a seguir a dinastia.
Na métrica e na rima, atendo o que esperam
Poema que se inclina a ser o que bem quiseram
Quatro estrofes me levantam - duas delas, quatro linhas
Juntas brilham e encantam, mas não tem poder sozinhas.
Tenho mais duas estrofes
Cada uma com três vozes
Pra alegrar a família.
Papai, mamãe, vovôzinho
Não são apenas meu ninho
São, sim, minha trilha.
Com mamãe fez direito um poema trabalhado
Um poema que, parido, pareceu cair na fria
Estava submetido a seguir a dinastia.
Na métrica e na rima, atendo o que esperam
Poema que se inclina a ser o que bem quiseram
Quatro estrofes me levantam - duas delas, quatro linhas
Juntas brilham e encantam, mas não tem poder sozinhas.
Tenho mais duas estrofes
Cada uma com três vozes
Pra alegrar a família.
Papai, mamãe, vovôzinho
Não são apenas meu ninho
São, sim, minha trilha.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Leia!!!
"Aos 25 anos, Arthur Rimbaud - o autor maldito de Uma estação no inferno, o pioneiro da poesia moderna, o amante de Paul Verlaine, o ídolo de Bob Dylan e Jim Morrison - abandonou de vez a literatura e a fama e partiu para uma viagem à África, onde sobreviveu durante 11 anos como comerciante, explorador e contrabandista de armas, e de onde só saiu para morrer, em marselha, em 1891, mutilado e infeliz. Em Rimbaud na África, o premiado escritor Charles Nicholl faz um levantamento minucioso dessa etapa pouco conhecida da vida de Rimbaud, que interpreta à luz de uma de suas frases mais célebres: "Je est un autre." Segundo Nicholl, é em busca desse outro que o poeta empreende sua fascinante e trágica jornada ao fundo da noite(...)."
- Tradução: Mauro Pinheiro
- Tradução dos poemas e leitura crítica: Ivo Barroso
- Título original: Somebody else: Arthur Rimbaud in Africa
- "Eu é um outro..."
Arthur Rimbaud, "Carta do vidente"
- You lose yourself / You reapper / You suddenly find / You got nothing to fear..."
Bob Dylan, "It's Alright, Ma"
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Branco-virgem
O branco-virgem do papel
É convite ao estupro
Criança inocente
Calada
Estática
Prende o choro
E vê o homem sujo:
Ele vomita rios
Mares
Oceanos de sangue
Na velocidade de um gozo fora da lei.
Banquete a ser devorado
Pernas abertas
Quentes
Livres
Induzem o marginal
Ele se lambuza
E não recusa o animal em si.
Toda intensidade
E todo papel
Possuem um anel
De compromisso.
A pureza da planície branca
É cabaço
É lazer
É ofício.
É convite ao estupro
Criança inocente
Calada
Estática
Prende o choro
E vê o homem sujo:
Ele vomita rios
Mares
Oceanos de sangue
Na velocidade de um gozo fora da lei.
Banquete a ser devorado
Pernas abertas
Quentes
Livres
Induzem o marginal
Ele se lambuza
E não recusa o animal em si.
Toda intensidade
E todo papel
Possuem um anel
De compromisso.
A pureza da planície branca
É cabaço
É lazer
É ofício.
- Quinto poema da plaquete "Os Sete Espelhos Quebrados".
Leia!!!
" Assim como Sócrates, Buda e Jesus Cristo, Torquato não deixou livros".
Paulo Leminski
- Toninho Vaz. Pra Mim Chega: a Biografia de Torquato. São Paulo: Casa Amarela, 2005.
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