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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Enchente

o lado de dentro das coxas carrega rios que correm soltos
a correnteza leva mergulhos imprevistos e afogamentos programados pra dentro de si
o redemoinho suga poças desnorteadas
tudo transborda no cuspe de uma catarata culpante

Tópicos

dois dias de copa do mundo
e um dia sem jogo da copa
ainda nos dopa no mesmo assunto
ou é só outro assunto no fundo também idiota?

Eu volto

Para Morgana Leal:


Eu vou, mas eu volto.
Se eu não voltar no dia combinado,
é porque combina muito mais com a gente
você ligar pra mim
e eu não atender na hora,
ocupado por demais
abrindo a porta da nossa casa,
desfazendo a bagagem cheia de saudades suas.

Perspectiva

O bom do frio
vai muito além.
Não é o que te esquenta,
mas quem

Reinício

Quando o país fica maior que o seu povo
é hora de passar a borracha
e começar tudo de novo.

Resposta

Um rotundo "não fode"
é o que recebe da vida
quem dela espera uma ode

Aparecidos

pessoas desaparecem
se reaparecem
consomem
se te consomem como um brinquedo
não desaparecem tão cedo
o punk vai na direção daquele cabaço a desabrochar com cores elétricas, galões de vinho barato e cigarros a fumá-lo até o último dos palavrões libertadores. a epilepsia performática o aproxima da estranha irmandade reunida com o mínimo de barulho corrosivo. sua vida passa a gritar no volume máximo estourando os tímpanos dos que ficam para trás sem entender. que se foda. pau no cu da porra toda.

Estratégia

Os seres humanos
são os menos humanos dos seres
Humanizar-se é o maior dos planos
desumanizados pelos seus poderes

Sempre

Quem é esse fulano
que vive fazendo aniversário
aniversariando todo ano?

Mensagem

"Trocamos bombas
por estrelas cadentes",
diz a carta ainda viva
dos últimos sobreviventes.

Valores

Nenhuma guerra traz paz
É paz de menos
E guerra demais.

Livre



voa a palavra-canário
quando abro tua gaiola
chamada dicionário

Camisa 10

Ao meu pai:


Fazer falta não faz jus a ele.
Ele era muito melhor deixando os outros na cara do gol.
Craque da bola que rola vinte e quatro horas por dia.
Suas chuteiras repousam penduradas no quadro da minha memória.

Caso

Vagabundo é diferente de vagabunda.
Se ela fatura alto com a própria bunda,
é ele quem mais apela
sem conseguir meia-horinha dela
com todo dinheiro que junta

157


157

Já roubei de tudo um pouco na vida
Principalmente as coisas que não podiam ser minhas
Não pelo pequeno prazer em tê-las por um tempo determinado
Mas pela grande mesquinhez em vê-las sem ser de ninguém
Seria muito escroto fazer algo desse tipo se escroto mesmo não fosse roubar a ideia de quem temeu ter da vida um pouco de tudo
Não averiguem meus bolsos com penas prescritivas
Um dia a justiça me queimará na fogueira das inutilidades
Para o desespero das ideias
à espera de culhões que roubem para elas a esperança
Inspirado pelo "Não existe verdade na TV" do poeta Iverson Carneiro.


Não existe verdade na TV
Não existe verdade de TV
Não exisTV
Não existe TV de verdade
Não existe TV na verdade
Não exisTV
Verdade
Ver

De
VT
Não exisTV

Coladas

nossas chagas sociais
abertas, mal resolvidas
ainda inflamarão de tal maneira
que ao restar amputá-las
elas ainda serão nossas chagas

Política FC

troque o primeiro e o segundo turno
pelos pontos corridos
e ponha pra correr o ruim
e corra do pior
ou assuma o mata-mata
sem campeão anunciado
só nome rebaixado
no mesmo nó

Agora

num dia como hoje
de tão quente
até o calor
se arrepende
Álcool uma coisa acontece no meu coração
Álcool uma coisa acontece me cora
Álcool uma coisa acontece me
Álcool uma coisa acontece
Álcool uma coisa tece
Álcool uma coisa
Álcool uma
Álcool
All
Cool

Devoração

A Poesia me come vivo nas minhas noites de orgia
Poemas têm muito o que fazer antes de amanhecer o dia
Poetas que se dão recebem preferência
A Poesia é um se dar sem aderência
Palavras montam no verso alheio
Versos me rasgam ao meio
Escritos nos quais me encaixo
Aqui a Poesia é mais embaixo


Idas e vindas

a cidade do Rio de Janeiro me quer longe
cada retorno é uma operação clandestina
entro pela fronteira falando outro idioma
ela só sabe de mim quando já fui embora

sábado, 26 de julho de 2014

Posição por cisão

Eu 
artisticamente
sou contra
todo tipo de lei vigente
a de agora
a que põe a cabeça pra fora
e aponta
lá pra frente
sou contra
e contra muita gente
vou sendo
com o mesmo adendo
já frequente.

Aos amigos


Rápido

Pra acabar com a violência
só com muita porrada. 
Pra porrada não ser muita,
seja a primeira bem dada.

Quente Amnésia

O banho quente
quem esquenta é a gente. 
Se o calor for tamanho,
o chuveiro é ligado
e esquecemos do banho

Negativos

Na madrugada fria de uma cidade do sul
a fumaça sai da boca
ela é a neblina que não esconde
grau a grau
degrau a degrau
a paciente queda a passos mínimos.

Anéis de Saturno

Como faço pra dizer aos outros
o tipo de coisa que nunca digo
se as palavras escolhidas a dedo
giram em torno do meu próprio umbigo?

Maior

Quando o país fica maior que o seu povo
é hora de passar a borracha
e começar tudo de novo.

Pedir demais

Um rotundo "não fode"
é o que recebe da vida
quem dela espera uma ode.

De passagem

pessoas desaparecem.
se reaparecem,
consomem.
se te consomem como um brinquedo,
não desaparecem tão cedo.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pessoa

O bom do frio
vai muito além.
Não é o que te esquenta,
mas quem.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

157

Já roubei de tudo um pouco na vida.
Principalmente as coisas que não podiam ser minhas.
Não pelo pequeno prazer em tê-las por um tempo determinado,
mas pela grande mesquinhez em vê-las sem ser de ninguém.
Seria muito escroto fazer algo desse tipo,
se escroto mesmo não fosse roubar a ideia de quem temeu ter da vida de tudo um pouco.
Não averiguem meus bolsos com penas prescritas.
Um dia a justiça me queimará na fogueira das inutilidades
para o desespero das ideias à espera de culhões que roubem para elas a esperança.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Cara

por não saber quando brincam
e quando falam sério
faço sempre a mesma cara de M
M de mistério

Fluxo

o lado de dentro das coxas carrega rios que correm soltos

a correnteza leva mergulhos imprevistos e afogamentos programados pra dentro de si

o redemoinho suga poças desnorteadas 

tudo transborda no cuspe de uma catarata culpante

As letras do amor

O amor tem dessas coisas.
Dessas, daquelas e d'outras.
Tem um Q 
de dia D,
de bomba H 
do ponto G.

A perfeição da coisa imperfeita

O poeta tem um poema na cabeça,
mas o papel está longe
e a caneta, também.

Entre o papel e a caneta,
o poema é a única coisa imperfeita que vem.

Amigo comigo

Às seis 
acordo
de acordo
com o modo.

No bar da cama
discuto comigo
o mesmo cara
o velho amigo.

Me balanço
me agito
falo alto
grito.

Dormir pra quê?
Sem sono
o papo flui
e como!

Diferenças

Às vezes o poeta fala um poema
E o poema não diz o que o poeta fala
O público espera o grande momento
E o poema nada
nada
nada
até terra firme
Agora rime tua salvação
Mas o poeta ainda fala
e o poema não

Antes da hora

Com quantas punhetas
se bate o orgasmo alheio?
Perde o jogo do tesão
quem gozar sua conclusão primeiro.

A Poesia dos nossos poemas


sábado, 21 de junho de 2014

O que a gente faz

o que a gente faz sozinho
a gente faz até ganhar o costume
o que a gente faz a dois
a gente faz até ficar bonito
o que a gente faz a três
a gente faz até chocar os outros
o que a gente faz a quatro
a gente faz até ganhar confiança
o que a gente faz a cinco
a gente faz até virar quadro

e eu pinto

domingo, 18 de maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Não Eu

Há alguém em mim 
com respostas pra tudo
Como um molho 
que dá gosto às coisas que engolimos à seco e às pressas
Ele beira a monossílaba da surpresa espantada
Trata-se de mínimas aparições 
nos hiatos de água de salsicha produzidos pela vida

domingo, 11 de maio de 2014

Parceiro

nosso último futevôlei
não sei quando foi
não sei como foi
não sei quem ganhou
não sei quem reclamou mais
não sei quem sorriu mais

como se fosse outro dia qualquer
voltamos pra casa com a bola nos pés
e sem o peso de saber
que tudo estava sendo feito
pela última vez


Segundo Domingo de Maio

tu que puseste alguém no mundo
mas nunca foste mãe
um "bom dia" é o que tens

só um "bom dia" no dia
de ganhar parabéns

Domínio

Tantos poemas vem despedaçados
Palavras fáceis
Versos fracos
Ideias frágeis
Vem devagar
Vem divagando
Vem diferentes
Encaixá-las ao mesmo tempo
no latido do sentido
não é saber dominá-las
no uivo do nonsense

Mexa com coisas domináveis
com as quais já mexia antes
Se deixar dominar por algo indomável
é só um pequeno domínio para os grandes.

Tocando o velho

O velho que lambe minha alma 
se move lentamente ouvindo blues 
com os olhos distantes 
e faz a cara de dor do músico 
que põe sua menina pra gemer
 na fogueira escorregadia que é todo palco
enfumaçando o túnel do tempo de mão dupla 
de onde meu velho encontra outros velhos 
e juntos tocam o puteiro nesse asilo atemporal

Lá e cá

pra onde pende a balança
quando adotamos um livro
e alugamos uma criança?

25

eu achava que não passaria dos 25
dos 25 do primeiro tempo
dos 25 do primeiro quarto
dos 25 do primeiro set
dos 25 primeiros dias
dos 25 primeiros nomes
dos 25 primeiros quilômetros

saí do quarto 
no primeiro 1/4
do meu século
vi 100 anos terminarem
outros 100 começarem
e outros 100 estarem
nas minhas 25 primeiras certezas

Caderno ao horizonte

na linha que separa céu e mar
escrevo até a linha acabar
quando acho que é hora de parar
a linha sempre acaba um pouco mais pra lá

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cinco Dias São Paulo

A decolagem do avião é como tomar uma injeção: passa tão rápido que o medo que se sentia acaba ficando embaraçoso. Sair do Rio é olhar pela janela o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a praia de Copacabana. Chegar em São Paulo é ver prédios, prédios, prédios. Alguns impressionam bastante, assim como todos eles juntos vistos momentos antes do pouso.
Em São Paulo se anda. Não se engane se disserem que para chegar a tal lugar você tem que seguir esta rua e virar na segunda à esquerda. Você vai andar. Muito. Morgana e eu aprendemos na prática.
Porém, antes da lição, seguimos nosso roteiro com a ajuda do mapa. A Primavera dos Livros, com encenações de clássicos da literatura mundial e obras de diferentes gêneros à venda, acontecia ao lado da Biblioteca Mário de Andrade. De um para o outro, ouvimos uma sequência de "não pode isso, não pode aquilo"  que envergonharia aquele que empresta o nome à biblioteca. Descemos até a Praça da República "dos meus sonhos", de Roberto Piva - sonhos de outrora que hoje aconchegam cracudos, mendigos e mijo. Os sei-lá-quantos-andares da Galeria do Rock nos alertaram sobre o que ficou claro depois: em São Paulo se ouve Rock; em São Paulo se veste Rock; em São Paulo se vive Rock. A Galeria do Rock é só uma espécie de quartel general daquelas pessoas de preto que tantas vezes ainda encontraríamos pelo caminho.
Depois de passar pelo Teatro Municipal, pelo Viaduto do Chá e rodar por quase uma hora totalmente perdidos, chegamos ao hotel cansados, mas não o bastante para impedir nossa madrugada na Avenida Paulista.
Na volta, água gelada nas pernas (aprendi com meu pai) e diclofenaco dietilamônio para diminuir o cansaço e acordar bem. Era só o primeiro dia.


Acordamos e metemos o pé no asfalto. Do Anhangabaú chegamos ao bairro da Liberdade no meio de uma festa budista. Almoço, lembranças e outra caminhada até a Sé, o interior da sua catedral e sua saída de frente para a praça tomada  por fotos turísticas, evangélicos entusiasmados, moradores de rua e pessoas apressadas demais para dar atenção àquilo tudo.
O Pateo do Collegio foi o próximo destino. Um "olá" para o padre José de Anchieta e sua missa inaugural, um barulho dos infernos no sino da paz e chegamos ao Mercado Municipal. Pena que tarde. Mesmo assim ainda conhecemos o famoso Adoniran Barbosa! Na verdade era o boneco dele que fica na Salada Paulistana, dentro do Mercado. Estava valendo. Estava valendo até colocar chifrinho no pobre Adoniran, não é, Morgana?
A noite que reservava nossa primeira noite no Comedians começou com chuva, muita chuva. Tanta chuva que foi difícil chegar. Uma vez que lá já estávamos, conhecemos aquela que seria nossa "amiga" e que ainda nos acompanharia em outros lugares: a fila.
Depois de uma hora e alguma coisa na fila (menos mal que estávamos protegidos da chuva), foram risos e risos e até uma interação com o mestre de cerimônias da noite.
- Quem é de fora de São Paulo? Vocês. Vocês são de onde?
- Rio.
- Rio de Janeiro?
- Isso.
- Legal. De qual favela? (risada geral) Não, não é mais favela. É comunidade. Mas vocês são de onde no Rio?
- Engenho de Dentro e Quintino.
- Ah... são perigosos! (risada geral)
Depois dessa e muitas outras, voltar para o hotel debaixo de chuva só nos inspirou a parar em algum bar da Augusta e molhar a garganta antes de partirmos.


O dia amanheceu e fomos ao Parque Ibirapuera. Lá, Morgana me gravou falando um poema do Roberto Piva cujo título é exatamente "No Parque Ibirapuera" (poema com o qual trabalhei na Especialização. Também vale ressaltar que este poema faz parte do livro "Paranóia" que, por sua vez, é parte da minha pesquisa de Mestrado). Caminhando pelo parque, paramos no Museu AfroBrasil, onde a busca por um banheiro fez a gente se perder um do outro naquele labirinto à primeira vista longo e proposital (para chegar ao banheiro, você tem que passar por todo o acervo do museu). Nos encontramos do lado de fora.
A cena entorno do MAM era tomada por adolescentes com skates e patins; adolescentes com álcool e outras coisas a mais na mente já no começo da tarde; adolescentes que poderiam ser alunos da Morgana ou meus alunos, mas com certeza eram alunos de alguém. Do lado de dentro, vimos algumas daquelas coisas que as pessoas fingem entender e outras tantas que entendemos sem precisar fingir. Oswald e Mário, pintados por Anita Malfatti, estavam lá, mas minha relação com os Andrade ainda iria muito além da pintura.
Saindo do MAM, somos parados por alunos de comunicação. Eles nos pedem para responder algumas perguntas sobre redes sociais. Ok. Nossas respostas provavelmente aparecerão algum dia na internet.
Do MAM, passando pelo MAC, ao MIS para ver a exposição sobre o David Bowie. Ficamos com saudade da fila de uma hora e tal no Comedians perto da fila de quase quatro horas que enfrentaríamos. Nesse tempo, descobrimos que o Labão faria um show no Ibirapuera, onde estávamos mais cedo. Também nos revezávamos entre a fila e a venda de vinis que rolava mais à frente. E deu tempo até de comemorar o título do Flamengo e outro vice do Vasco via Twitter.
Uma vez na exposição, não tive a menor vontade de sair. Quase chorei ao ouvir "Starman" e ver a roupa usada por Bowie em um manequim com o clipe da canção em um canto totalmente espelhado da exposição.
Tantas e outras experiências ficaram nas lembranças durante nossa ida à Brigadeiro faria Lima. Morgana só queria comprar umas coisinhas, mas se viu no meio de lojas que ela só tinha visto até então em filmes (uma Louboutin, por exemplo). Seu espanto foi tanto que ligou na hora para a mãe para lhe contar. Eu não entendia nada.


Quando eu disse que minha relação com Oswald e Mário de Andrade não ficaria só na pintura de Anita Malfatti, era porque chegaria o dia de encontrá-los no Cemitério da Consolação. O dia chegou. No cemitério nos informaram onde estava Mário. Uma mulher que parecia ser funcionária do lugar nos apontou onde estava Mário. Ela ainda mostrou onde estava, segundo ela, a outra parte da família de Mário. Visitamos primeiro o poeta arlequinal. Morgana me gravou falando o poema "Quando eu morrer". Deixei um poema meu ali e nos dirigimos até o lugar no qual a suposta funcionária nos informou que estava o resto da família de Mário de Andrade. Encontramos o Oswald (que não tem, até aonde se sabe, parentesco algum com Mário). Desta vez, Morgana não só me gravou falando "quando o português chegou/debaixo de uma bruta chuva/vestiu o índio/que pena!/fosse uma manhã de sol/o índio tinha despido o português". Ela também se gravou falando o mesmo poema para provar que até ela, cuja memória não é das melhores, poderia decorar o poema. Eu, não. Também deixei meu poema ali e saímos debaixo da famosa garoa paulistana. Na entrada do cemitério, me dou conta de que meus óculos não estavam comigo. Eus os havia esquecido no túmulo do Mário. Pensei em retornar para pegá-los de volta. Morgana me disse: "deixa, deixa. Vai ver o Mário também queria os seus óculos". E lá eles ficaram.
Caminhamos até descobrir que a Kiss FM ficava por perto. Estávamos prontos para receber um "não". Não apenas visitamos a Kiss. A 89 também ficava no mesmo prédio. Fomos em ambas. Conhecemos geral. Foto e papo com o PH da 89 e com o Alexandre da Kiss. PH lembrou dos bons tempos de quando havia a parceria com a Rádio Cidade enquanto agradecíamos ao Alexandre pela chegada da Kiss ao Rio (mesmo ele não sendo o responsável por isso).
Fomos ao Masp (estava fechado), passamos pelo Trianon e paramos no Estadão para comer algo antes de chegarmos ao hotel. Nem demoramos muito. O Citibank Hall nos esperava. O Placebo esperava Morgana. Nós esperávamos um trânsito dos infernos. Não foi tão ruim assim. Acho que perdemos mais tempo nas filas já citadas.
Levei Morgana à casa de shows e fui agraciado por ela com a compra de um ingresso para mim. Não sou tão fã assim do Placebo, mas ou eu ficava lá dentro, na pista premium, ou lá fora, na chuva,no frio, no nada.
"Festa estranha com gente esquisita" é o verso que define bem o que é um show do Placebo. Não que seja ruim. Longe disso. Brian Molko não precisaria cantar, tamanha era a intimidade do público com a banda. "WE ARE LOUD LIKE LOVE".
Na volta, pegaríamos um táxi com um rapaz de São Luís do Maranhão que conhecemos lá. Não pegamos. Só arrumavam táxi com preço fechado (o que é contra a lei). Nada de taxímetro. "Não saí do Rio para dar uma de otária em São Paulo", disse Morgana. Pegamos um ônibus, o que foi lucro para os três. O rapaz ficou perto da Paulista e nós seguimos até o Terminal Bandeira, de onde andamos até a Santo Amaro. O dia seguinte seria o dia de deixar o Central Plaza Flat, a rua Santo Amaro, o bairro Bela Vista, a cidade de São Paulo.


A despedida de São Paulo com chuva não foi problema. O problema foi saber no aeroporto que a mesma chuva tinha fechado o Santos Dumont, no Rio. Ou seja: nosso voo, que seria às 12:55, virara uma possibilidade de voo lá para as 16:00.
Recebemos um voucher para almoçar. Teria sido um baita de um almoço se não tivéssemos comido ates do voo, o voo das 12:55. Almoçamos na base do "vai que dá". Mais algumas horas de Congonhas, Congonhas, Congonhas... e finalmente o embarque. Morgana tentava dormir, o que era bastante difícil com a Naty Graciano, do CQC, falando mais do que todos os CQCs juntos. Na ida, a Alcione fez o favor de dormir. Na ida, eu que não deixei Morgana dormir, puxando conversa com ela para disfarçar, sem sucesso, meu nervosismo.
Passamos por cima do Engenhão. Pensei em descer ali mesmo, mas o piloto não parou no ponto. Sim, o piloto não parou no ponto. Eu já estava de volta ao Rio.






Fotos da viagem em:
  https://www.facebook.com/diocosta/media_set?set=a.10202077949853558.1073741833.1331524105&type=1


domingo, 6 de abril de 2014

Molecagem

foi no aniversário do cazuza
que o responsável marido cinquentão
entrou no mercado
e de lá saiu no carrinho de compras
empurrado pela reprovação
daqueles que se venderam
até mais do que os itens
por eles comprados

Bagunça

ir à zona é de lei

a zona eleitoral
só me fez mal
sempre que votei

Queda

há quem caia de moto
há quem caia de trouxa
há quem caia de boca
há quem caia
e se cale de repente

quem caia
consente
e como sente!

Nome

cheguei ao sarau
alguém apontou pra mim e disse
"ih, não é aquele maluco que não sei o nome?"
fiquei num canto esperando minha vez
e ouvi "é, é aquele maluco que não sei o nome"
quando fui ao microfone, alguém perguntou
"quem é aquele maluco que não sei o nome?"
e responderam
"é aquele maluco que não sei o nome"

depois de falar meu poema
fiz questão de dizer quem eu era
pra ninguém esquecer
nunca mais!
e me apresentei

"boa noite,
eu sou o maluco que ninguém sabe o nome"

Culpa

o rosto colado na janela vê a singularidade passar acorrentada nas masmorras do coletivo sem trilha sonora radiofônica e jabazeira

cortei a garganta do programador da última rádio do meu dial antes que ele dissesse que estava apenas cumprindo ordens

peguei um ônibus na rodoviária e fui embora antes que alguém aparecesse pra me agradecer

os fantasmas das estradas são almas depenadas à espera da companhia daquele rosto colado no lado de fora do vidro

eu sigo viagem e durmo profundamente o sono dos culpados

Inerência

tesão
uns tem
outros são

A cada um dos seus 98

P/ minha vó Celina e seus 98 anos feitos hoje - 28/03


acho que não chego aos cem
e as vagas diminuem
pra quem vai além
mas não tem problema
não mesmo
não tem

seja lá
aonde a gente chegar
chegaremos 100% bem.

Perspectiva

tem hora que
em segundos
os minutos
duram dias

24 horas

a manhã é pra ir dormir
a noite, pra fazer besteira
e a tarde nunca é tarde
pra ser tarde
a tarde inteira

A poesia dos nossos poemas

falamos de poesia
como se soubéssemos do que se trata
a poesia se olha nos nossos poemas
e o quanto não sabemos nada

Aos garis

a coisa está tão fedorenta e feia
que se o fedor do prefeito for às ruas
o lixo volta correndo pra lixeira

#Ar

O que tenho raiva
Até demais
É
Du
Ar
Do
Paes

De "#Vazão - Antes que seja depois" (2013)