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sábado, 29 de novembro de 2008

Letras Tortas III

A terceira edição do "Letras Tortas" aconteceu, mais uma vez, após uma semana inteira de provas. Mesmo com a ausência de alguns membros (sem trocadilho) vitalícios (idéia do Daniel), o encontro foi cheio de idéias, besteiras, revelações e ... ÁLCOOL!!!!!

Quem esteve presente, vai relembrar aqui tudo o que veio à tona naquela noite. Pra quem perdeu, vai aí um pouco do encontro.



Um por todos e todos pelo álcool!






Do hetero...






...ao homo.






Paralelas que se cruzaram (sem trocadilho).





Essa caipirinha não fez estrago.


Essa fez.







Nosso amigo Daniel ainda não estava presente quando a foto foi tirada.













"Como estava muito frio, a gente ia direto pra banana."







"Dá pra parar de aprofundar o negócio?"







"Entre mortos e feridos, vários aleijados."







"Álcool não é problema. Álcool é solução."







"Nunca fiz amigos tomando água."







"Nunca ouvi história de quem toma leite."







"Até o meu canudo ficou emocionado."







"Ele escolheu KY."







"Mel rima com Hell."







"A intensidade é a graça da vida."







"No submundo não hetero, o ursão é o peludão."







"Eu dou pra cabeleireiro."













Não é tristeza, é álcool mesmo.

Destaque para Márcia Lucius. Logo em sua primeira participação no "Letras Tortas", nossa amiga já incorporou o espírito que rodeia este grupo. Márcia, até agora, na curta história do "Letras Tortas" é a pessoa que mais ficou torta e, conseqüentemente, que mais honrou o nome que nos batiza. Parabéns!!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A menina que lê*

*Terceiro lugar no concurso de contos de terror da Faculdade CCAA.



Tarde demais. Quando a instituição se deu conta da repercussão e decidiu levar o caso a sério, apressando-se em dar uma versão convincente do ocorrido, a história já havia chegado à boca dos alunos. Conversas ao pé do ouvido levantavam muitas possibilidades. Boato? Sensacionalismo? Marketing? Algo para além da nossa vã compreensão? O fato era que algo que, a princípio, parecia ser banal, sem importância, tinha sacudido a faculdade em suas extremidades. Pêlos arrepiavam-se, unhas eram trituradas por dentes famintos, olhos esbugalhavam-se com o tom de voz soberano dos propagadores dela, a figura central de todo o caos instalado, o ser inexplicável, a criatura que marcou a vida e a morte de muita gente
Era mais um fim de noite de estudo para os alunos e de trabalho para os funcionários da Faculdade Antônio Cândido. Salas, aos poucos, ficavam vazias. Elevadores, cheios. Despedidas efêmeras na porta da instituição educacional decoravam os últimos minutos daquele momento. Às 22h10min, já não se tinha sinal de estudantes por lá. Entretanto, como era de costume e fazia parte do procedimento padrão, Jonatan – um dos funcionários – checou todos os andares, desligando as luzes, fechando as salas e conferindo se não havia de fato mais alunos circulando pela Faculdade.
- Pronto! Conferi de cima para baixo, do último ao primeiro andar. Está tudo certo – falou com firmeza.
-Acho que não – respondeu Guimarães, outro funcionário que, pelos monitores, via tudo. – Você passou no quarto andar, Jonatan?
- Sim – disse o rapaz surpreso. – Por quê?
- Tem uma menina sentada no quarto andar. Ela está lendo! – Exclamou apontando para a tela. – Ela não sabe que a saída é às 22h00min? E pela luz forte de lá, a iluminação do corredor não foi desligada.
- Que estranho! Eu jurava que tinha passado por lá. Mas tudo bem. Vamos nós de novo – esbravejou levemente Jonatan, sabendo que por causa disso, chegaria mais tarde em casa.
Foi ele pelo elevador. As portas abriram-se como se fossem uma passagem para outro mundo. Jonatan deu uma última olhada para Guimarães e para os outros funcionários que se faziam presentes, antes de embarcar. O número quatro, acionado. O fechar das portas estalaram em sua alma num encontro de pavor e tensão. Era a primeira vez que algo daquele tipo estava acontecendo. Quando chegou ao quarto andar, a escuridão do lugar parecia recebê-lo com um sarcástico e tenebroso “bem-vindo”.
- Guimarães na escuta?!
- Na escuta, Jonatan!
- O quarto andar está completamente apagado.
- Como assim? Aqui no monitor está tudo muito claro.
- Mas aqui está escuro.
- E a menina? Você achou?
- Calma. Terei que ligar a lanterna.
Jonatan a procurou e nada. Após achar que a menina teria descido pela escada, o funcionário aproximou-se da câmera colocada no quarto andar e, usando seu rádio transmissor, disse que não havia ninguém ali. Porém, Guimarães e todos os outros que assistiam pelo monitor, pálidos de perplexidade pelo o que viam, tentavam vencer o congelamento provocado pela cena que os assombrava: Jonatan, de frente para a câmera e com o rádio na mão, dizendo não ver ninguém, e a menina ali, ao seu lado, encarando-o com seu vestido branco, cabelos longos meio embaraçados, rosto angelicalmente escatológico e livro no peito entre suas mãos. De repente, a câmera parou, o rádio quebrou e tudo sumiu.
A partir de então, todas as noites na Faculdade Antônio Cândido eram cobertas de um cinza amedrontador, um nublado catastrófico, uma escuridão que pairava naqueles que iam ao quarto andar após as 22h00min da noite. Sumiços sucediam-se. Versões apareciam. A faculdade prontamente divulgou uma nota informando que os funcionários que sumiam, na verdade, eram apenas demitidos por não se adequarem a filosofia de trabalho da empresa. E sobre a menina vista nos monitores da recepção, tudo havia acontecido por causa de uma imagem congelada. Porém, a menina, apelidada de “a menina que lê” já era famosa no meio universitário.
Nenhum aluno ficava além da hora no período da noite. Ainda mais estudando no quarto andar. Havia chegado um momento em que até alunos estavam sumindo e ninguém queria ser o próximo. Porém, houve uma aula que acabou às 21h59min. A saída foi uma correria para os elevadores e para a escada. Nesta confusão, Kleitor escorregou, bateu com a cabeça no chão e ali mesmo desmaiou, ficando para trás. Kleitor era aluno da faculdade e, assim como todos os outros, queria ir para casa o mais rápido possível. Sua única companhia até então era o sangue que saída de sua cabeça. Até então.
A vida acadêmica não podia parar. Professores davam aula, alunos estudavam e funcionários trabalhavam. Aliás, os funcionários eram a fonte dos alunos. A cada comunicado da faculdade, uma nova história era contada à boca miúda, negando a versão oficial. Funcionários decidiam no jogo de azar ou sorte quem iria até o quarto andar, já que era obrigação deles. E o escolhido da vez foi Guimarães. Logo ele que viu muitos amigos sumirem, alunos e funcionários. Logo ele que estava na primeira aparição da menina. Logo ele que tinha medo do escuro.
- Estamos com você, Guimarães! Vai dar tudo certo! Coragem! – incentivavam os outros funcionários (porém aliviados por dentro por não estarem no lugar do pobre Guimarães). Guimarães riu timidamente e entrou no elevador. A cada andar, o coração parecia querer sair pela boca. Chegando ao seu destino, suas mãos suadas e trêmulas mal conseguiam segurar o rádio transmissor e a lanterna previamente ligada. O rádio toca.
- Que susto, Josué! Quer me matar?
- Só queremos saber se está tudo bem com você.
Apesar da respiração ofegante, Guimarães disse que estava tudo bem. Viu que a luz do quarto andar estava desligada e pensou logo em descer. Mas ouviu uma voz. Guimarães engoliu o medo e decidiu descobrir se era algum aluno ou a temida menina. Ao colocar os pés no corredor, a menina olhou nos seus olhos, jogou o livro que carregava na sua direção e mais um sumiço se fez. Sobrou o rádio e a lanterna no chão. Josué o chamava e o silêncio era a única resposta.
Refeito do desmaio e com a cabeça machucada devido à queda, Kleitor acordou e viu a tal menina arrastando Guimarães pelo quarto andar, levando-o sabe-se lá para onde. E mais distante, o rádio quebrado. A menina, puxando Guimarães pelo braço, olhou para o lado e viu que tinha um corpo ali. Na mesma hora, Kleitor fechou os olhos e fingiu-se de morto ou que ainda estava desmaiado. A menina, após levar Guimarães para algum lugar do quarto andar, voltou e puxou Kleitor pela mão. Levou-o para a última sala do quarto andar que, inexplicavelmente, estava aberta. Lá, estavam todos os desaparecidos. Sentados, comportados e mortos. Kleitor foi colocado na última cadeira e teve a aula da sua vida. A menina, antes de abrir o livro, iniciou sua aula apresentando os dois novos colegas da turma.
- Antes de começar nossa aula, quero apresentar dois novos amigos. Qual o nome de vocês? – Kleitor continuou de olhos fechados e segurando a respiração o máximo que podia. – Vocês estão tímidos, eu entendo. Espero que com as aulas, vocês possam se sentir mais a vontade.
A menina lia histórias de terror, enfocando em assassinatos, mortes, estupros, decapitações, torturas e esquartejamentos. Sempre com a participação dos seus alunos. Kleitor via cabeças rolando pela sala, braços e pernas cortados, corpos abertos e rasgados pelo pé da mesa da então professora e muito, muito sangue. Tudo para tornar mais real as histórias. A menina, com seu livro aberto, lia a história e só parava para a representação dos momentos mais sangrentos. Kleitor viu-se em um filme de terror. Mas no fim, salvou-se.
- Por hoje é só, minhas crianças. Vocês, meus mais novos alunos, deixei vocês se ambientarem hoje. Mas só por hoje! Próxima aula, quero ver vocês participando.
Da mesma forma que ela apareceu, ela sumiu, saindo da sala e desaparecendo no corredor. Kleitor não conseguia se mover de tanto medo. Muitas horas depois, ele saiu do lugar, passando entre os corpos estirados na sala. Foi até a recepção, mas a faculdade já estava fechada e vazia. Era madrugada. Teve que esperar o dia amanhecer. Gritou desesperadamente até o sol aparecer no horizonte.
No dia seguinte, encontraram Kleitor em estado de pânico. Ouviram sua história. De imediato, foram até a sala onde ele disse ter acontecido tudo. Nada foi encontrado. Kleitor manteve sua versão. Fez escândalo na frente de todos. Disse que não estava louco, que tinha visto tudo. A alta cúpula preferiu levar Kleitor para um lugar reservado, mesmo com sua resistência. Alunos e funcionários assustaram-se. Era a primeira vez que alguém tinha visto de perto a tal menina. Mais que isso: era a primeira vez que alguém tinha retornado do quarto andar após vê-la. Logo a faculdade anunciou que tudo se deu pelo trauma do aluno Kleitor ter ficado trancado na faculdade. E com todas as histórias inventadas, ele ficou impressionado e imaginou tudo aquilo. E que os responsáveis seriam cobrados por isso. Em outras palavras, os funcionários.
Nunca mais Kleitor foi visto. As histórias continuaram. Os sumiços no quarto andar também. Assim como as satisfações da instituição. Josué era o único funcionário da faculdade que havia restado daquela última experiência. Evitava falar sobre aquilo. Lembrava das últimas palavras do amigo Guimarães e do rádio mudo. Não demorou muito tempo, pediu demissão, antes que fosse sorteado para ir ao quarto andar. Despediu-se de todos, funcionários, diretores, professores e alunos. Ao olhar pela última vez a Faculdade Antônio Cândido, viu na janela do quaro andar uma menina e um recado escrito à sangue que dizia “vem estudar comigo”. Coçou os olhos e nada mais viu. Seguiu seu caminho. E a menina, suas aulas.

Atemporal*

Poeta sem data
morte abortada
o tempo é grande.
A diva dúvida
nunca é a única
desafiante.
O cerne
humano
quer-me
profano
falso
etílico
nem a bíblia
faz-me bíblico
vide a vida
corrompida
com roupinha
provocante
achando-me frouxo
ou coxo
nem olho roxo
põe-me distante
da tentação
da condição
da alma
e do físico.
Atemporal é o verso
cujo acesso
ao sofrer
seja intrínseco.




* Com o aval de Stella Leonardos

sábado, 1 de novembro de 2008

Texto de Abertura da Terceira Mostra da Faculdade CCAA

Senhoras e senhores, moças e rapazes, meninos e meninas, professores, universitários, funcionários da instituição que nos abriga, público em geral. Muito bom dia a todos. Mas o que faz um dia ser realmente bom? Apenas um cumprimento? Uma saudação? Uma palavra? O tempo? Uma promoção no trabalho? Não haver trabalho? Com certeza, muito do que vai determinar se teremos um bom dia ou não é o lugar para onde estamos indo. Se você gosta daquele ambiente, daquelas pessoas, daquilo que será colocado como principal ponto de discussão, provavelmente você não terá somente um “bom dia”, mas também um dia bom. E quem se propõe a prestigiar um evento acadêmico busca uma gama de temas interessantes que sejam esmiuçados em debates e palestras para uma melhor compreensão. Um passo a mais na longa caminhada do conhecimento.
Nos próximos dois dias, a Terceira Mostra da Faculdade CCAA ganhará vida através de todos aqueles que carregarão um pouco dela em si e darão de si um pouco por ela. No teatro ou em uma sala de aula, alunos, professores e convidados especiais apresentarão ao grande público, trabalhos inéditos em suas respectivas áreas de estudo, resultando numa diversidade altamente satisfatória entre os cursos de Administração, Comunicação Social e Letras, cuja meta é justamente a troca de informações e experiências em seus campos. E este “compartilhar” não é restrito àqueles que participarão efetivamente do evento. A relação entre os cursos e o público presente é também o ponto alto da Mostra. Tal variedade marca a intenção de saciar a sede de quem sabe que nada sabe e, assim, ao invés de fechar as portas para o novo, as escancara, em prol do sucesso da próxima lição. É desarma-se conscientemente, inocente na arte do aprendizado. É mergulhar no assunto dominado por terceiros de peito aberto e ouvir as colocações daqueles que desejam que ao menos uma gota do seu ‘saber’ respigue neles. Quando o conhecimento é a moeda de troca, não há crise econômica que o desvalorize.
Nos próximos dois dias, este intercâmbio será a tônica da Terceira Mostra da Faculdade CCAA. Variações sobre o mesmo prisma que poderão acarretar em futuros diálogos Pós-Mostra, elas indicam este evento como um possível pontapé inicial para a realização de outros trabalhos. Quem sabe, nesta Mostra, aquela mesa redonda ou aquela palestra não desperte o interesse de alguém em ir mais fundo em tal explanação? Muitos alunos que estarão apresentando seus respectivos trabalhos nesta Mostra lembram-se de outros que tiveram grande repercussão na Faculdade CCAA. E os professores que darão o ar da graça neste evento também nos presentearão com assuntos instigantes recheados de curiosidade e interesse. Sem esquecer as exposições permanentes que poderão ser apreciadas nas salas de aula.
Aqui as diferenças se igualam e a dessemelhança reflete-se no mesmo espelho. A normatização abre espaço às variantes possíveis e a discordância concorda com a novidade que chega à nossa praia - tão comum pra nós, tão complexa pra outros.
Esta Mostra não pretende diminuir a importância das diferenças. Ela vem, ao diversificar seu formato, mostrar sob um ponto de vista geral, que aprender com o outro é também aprender consigo. E se cada um está mesmo no seu quadrado, estamos aqui pra provar que não há atitude mais quadrada em tempos de conhecimento plural.
Outro aspecto presente na Terceira Mostra da Faculdade CCAA é o cultural. O desenvolvimento intelectual estará na batida de cada pensamento brindado por nós. O estudo dos alunos em cima dos tópicos apresentados no decorrer do ano letivo resultou nesta oportunidade dentro da Mostra. Um prêmio àqueles que caíram de cara nos livros e adquiriram um conjunto harmonioso capaz de exprimir em sucintas palavras, questões, colocações e raciocínios.
Para acrescentar nossa bagagem cultural, o curso de Administração traz o profissional capaz de organizar negócios e empreendimentos, diagnosticando problemas, buscando soluções, sabendo lidar com sua equipe de trabalho, organizando-se e enfrentando mudanças. Apto a atuar nas áreas de Ciências Gerencias, o gestor deve ser humanístico em seus valores e possuir uma formação técnica e científica que o capacite a empreender, liderar e aperfeiçoar-se sempre. O profissional também precisa ser um estrategista, saber refletir criticamente a respeito da produção que está sendo feita e possuir algumas características básicas como iniciativa, desejo de aprender, determinação e vontade política.
Já o curso de Comunicação Social enriquece a Mostra ao apresentar o profissional ético que sabe lidar com a informação tanto analiticamente quanto comercialmente, dominando as diferentes mídias para a produção de um conteúdo que seja relevante à sociedade, sempre com um olhar crítico referente à própria profissão. O trabalho em grupo também é considerado de vital importância para o profissional de comunicação. Pois em um mundo globalizado, trabalhar em equipe torna-se, cada vez mais, uma exigência. O apuro técnico, o reconhecimento do seu papel transformador e mobilizador, a perspectiva mercadológica, o compromisso social em atenção às minorias e a permanente atuação dentro da Comunicação são algumas características que marcam positivamente o profissional deste campo, sempre valorizando novas pesquisas e perspectivas na área.
Por fim, o curso de Letras apresenta seu profissional capaz de lidar criticamente com as linguagens, indo além da reflexão teórica e relacionando-a com sua prática. A importância da utilização de novas tecnologias no processo de construção do cidadão torna o profissional de Letras não apenas um instrutor lingüístico, mas um cidadão educador e investigador, em uma constante busca do auto-aperfeiçoamento. O desenvolvimento teórico e descritivo das línguas em relação aos discursos, a relação entre a teoria e sua utilização no ensino, o domínio das literaturas e sua inter-relação com outras expressões artísticas, a compreensão da diversidade intrínseca da língua, a valorização da troca entre o cânone e o popular, a contribuição no campo educacional e a propagação da autonomia e da criatividade descrevem com exatidão este profissional participativo em várias manifestações culturais.
A Terceira Mostra da Faculdade CCAA mostra-se como uma excelente oportunidade para expandir horizontes em nome de um espírito sempre inquieto, atrás de algo que está para além do óbvio.
Esta Mostra é um momento importante tanto para a Faculdade CCAA quanto para aqueles que terão seus trabalhos expostos. Os docentes abordarão temas que, algumas vezes, fogem do que a ementa pede e, assim, quase não temos a chance de vê-los em tal momento. Aqui, veremos este outro lado pouco conhecido por parte de seus discentes.
Já para a instituição, é a chance de apresentar à comunidade um pouco do que ela produz em um ano inteiro de estudo e pesquisa, com pensamento crítico e veia investigativa, filtrando e selecionando informações em meio a uma aceleração de vida provocada pelas novas tecnologias. O progresso individual contribui para a evolução cultural de toda a coletividade graças à parceria de alunos e professores, imbuídos nesta causa.
E os alunos? Diferentemente das outras duas edições, esta Mostra teve a participação direta dos discentes na produção do evento. A correria nas reuniões atrás do que palestrantes e convidados especiais necessitariam para suas apresentações não diminuiu a vontade de proporcionar aos espectadores um evento bem preparado e de acordo com a organização pela qual a Faculdade CCAA sempre preza.
Outro ponto relevante em relação aos alunos é a oportunidade de mostrarem trabalhos bem sucedidos na Mostra, sem preocupação com nota. A avaliação por parte do público e o prazer em expor algo feito por eles é o que os move para mais este desafio, sem restringi-los aos muros da sala de aula.
A importância da Terceira Mostra da Faculdade CCAA está na formação do seu público, ávido por conhecimento e cheio de desejo intelectual diante do que temos a oferecer. Trata-se de um grande encontro. Uma festa entre a comunidade e a academia. Pessoas de todas as classes, de todas as raças e de todos os credos são bem-vindas a este acontecimento que reúne profissionais capacitados e gabaritados em suas funções e alunos com ânsia de apresentar o que por eles foi desenvolvido ao longo deste período.
O filósofo alemão Hegel disse certa vez que “nada existe de grandioso sem paixão”. Em cada debate, em cada palestra, em cada exposição, inclusive nesta abertura, mesmo que aparentemente não fique muito claro, tenham a certeza de que a paixão está lá, nas palavras, nos raciocínios e no prazer de desvendar o infinito universo que nos espera. Boa Mostra a todos!

sábado, 11 de outubro de 2008

Louzadão é 7 em Literatura Britânica!

Louzadão é sinistro! É tão sinistro que quando tira nota máxima, merece destaque. Quem perdeu, pode conferir agora. Quem estava presente, não custa nada rever. Parabéns, Carlitos!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Letras Tortas II

O segundo encontro do "Letras Tortas" foi um grito de alívio após uma semana inteira de provas, provas e provas. O clima tenso, o estudo compulsivo e, principalmente, a garganta seca, só fizeram aumentar a expectativa desse momento. Eis um pouco do que aconteceu:



Brindemos!



Mão Negra (vilão de um dos episódios do Chapolin Colorado).


Gente fina é outra coisa.




Reparem estes cabelos. Eles farão um milgre.



O mentor e o pupilo.




Milagre! Milagre! (Angélica chorando de rir)



Morgana registrou as manifestações da noite:






"Saussure de cú é rola. Prefiro o Visconde de Sabugosa."



"Eis que surge a aurora."



"Inovar é tudo: complete você!"



"Ninho que muda situações."



"Viva a antítese da vida!"



"Por que as pessoas demonizam o mais belo da vida?"



"Prefiro o céu ao clima mas o inferno à companhia."



"Periquita marcou minha boca."



"É a quinta da cabaça!"



"Vinho do Cabo da Boa Esperança."



"Faixa 5 do 666."



"Tacos, bolas e caçapas."



"Não é mais aurora. É o sol a pino! Jesus amado!"



"Eu quero que se foda e paus apareçam."



"É fácil meter o pau no cara."



"Fudeu, André!"




Caras e caretas
eternas
cervejas
e veja que tudo é
é, é, é...
beber e falar
sem ser olhos de visão total
e racional.
Isto é ser... eterno!

Autora: Angélica Castilho





Poema Dadaísta
Dalborgha Vanessão
Dany Boy Saussure
Vodica André
Amaury Angelical
Brahma (?)* Boca
Mestre Mano
Dios Carlito
Bebum
Amém!
Autor: Carlos Louzada


* O alto índice de teor alcoólico do poeta impossibilitou que a palavra em questão fosse escrita claramente.





quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ode à vagabundagem

Esta é uma homenagem
uma ode à vagabundagem
um grito do fundo
um tiro pro alto
e com pólvora na boca
o êxtase e a excitação
verbalizam um estilo a margem
um estado de exceção.
O espelho do fim de semana
do feriado.
Hã? Alguém falou em trabalho?
Eca!
Bom são os amigos
a Sueca
e um tira-gosto de lado.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Cordão Umbilical

Querido cordão umbilical
que liga o homem são quando apronta
à outra ponta
a visceral
por quê não o deixa?
Larga-o sempre por aí
seco como uma ameixa
depois de sugá-lo
até a última gota
e quando ele apronta outra
lá está você
o elo entre o sensato
e o outro lado do ser.

No labirinto
de vinho e absinto
você espera na porta
a voz embaralhada
tonta e torta
da carta marcada
na rota.

Companheiro
amigo
porquê leva e traz contigo
sua presa na mão
cuja mão já é presa
na correnteza
da transgressão?

Nos conduz
para onde estamos
sem luz
sem planos
há cem anos
do final que filmamos
vamos do bem ao mal
pela diversão
no cordão umbilical
da contramão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A visão de mundo da obra de Augusto dos Anjos no poema "O Pântano".

O PÂNTANO

Podem vê-lo, sem dor, meus semelhantes!...
Mas, para mim que a Natureza escuto,
Este pântano é o túmulo absoluto,
De todas as grandezas começantes!

Larvas desconhecidas de gigantes
Sobre o seu leito de peçonha e luto
Dormem tranqüilamente o sono bruto
Dos superorganismos ainda infantes!

Em sua estagnação arde uma raça,
Tragicamente, à espera de quem passa
Para abrir-lhe, às escâncaras, a porta...

E eu sinto a angústia dessa raça ardente
Condenada a esperar perpetuamente
No universo esmagado da água morte!




O Pré-Modernismo marca a transição de valores estéticos do século XIX para uma nova realidade que se desenhava socialmente. Entretanto, os poetas pré-modernistas não queriam enfrentar essas questões e tinham na evasão um meio de fuga. Sua literatura tem como proposta uma claridade de visão (uma posição radicalmente contra o Simbolismo). Augusto dos Anjos é um dos poetas pré-modernistas mais importantes. Sua metáfora é chocante e cristalina (ao contrário das imagens simbolistas). Sua tendência é pessimista e ainda aborda a escatologia do ser humano no sentido físico, científico.
No poema "O Pântano", o eu-lírico usa o pântano como uma metáfora pessimista do meio onde vive com seus semelhantes: "Podem vê-lo, sem dor, meus semelhantes!.../Mas, para mim que a Natureza escuto/Este pântano é o túmulo absoluto/ de todas as grandezas começantes!". A "Natureza" é uma alegoria (não tão subjetiva quanto o que existe no Simbolismo) que significa a vida. O eu-lírico ouve a vida como só um poeta é capaz (dando a entender que o eu-lírico aqui é o próprio Augusto dos Anjos).
No verso "Em sua estagnação arde uma raça", há a abordagem de uma questão moderna: o tempo. Estagnado, parado, o tempo passa e a não-ação é uma morte em andamento. O movimento é o que produz. E mesmo que este movimento vá parar na morte, esta morte não é o fim, pois o movimento, a produção é sagrada, enquanto a não-ação é condenada.
Já no fim do poema, há a idéia de matéria versus alma (muito presente na obra de Augusto dos Anjos). A matéria é o corpo que trabalha como a prisão da alma e o ser humano está condenado a viver sua vida até encontrar a morte, a musa desejada que o liberta. "E eu sinto a angústia dessa raça ardente/condenada a esperar perpetuamente/no universo esmagado da água morte".

O preconceito racial em "Clara dos Anjos".

No romance "Clara dos Anjos", Lima Barreto denuncia asperamente o preconceito racial e social que é vivido pela jovem suburbana que dá nome à sua obra.
Clara é uma pobre mulata, filha de carteiro, que acaba sendo iludida e desprezada por um rapaz tão humilde quanto ela (Cassi), não adiantando a excessiva cautela da família com sua filha. O autor retrata em sua personagem principal o drama de tantas outras meninas mulatas que também vivem no subúrbio e são seduzidas para logo depois serem desprezadas. Assim, Clara é mais que uma personagem: é um elemento metonímico, pois representa todo um universo feminino que ainda acreditava em príncipe encantado e amor à primeira vista.

O dialogismo e o multiperspectivismo na obra machadiana, de acordo com o capítulo XXI ("O Almocreve") em "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

A narrativa machadiana segue o conceito dialético não só pelo diálogo entre os personagens mas também pela conversa que o narrador tem com o leitor. Nesta arte de contradizer idéias para surgir novas idéias, há a tentativa de um convencer o outro, e esse jogo existe na obra de Machado. É esta a técnica usada por ele para ganhar o leitor para si. No capítulo XXI ("O Almocreve"), Brás e seu jumento parecem estudar um ao outro. E mesmo o romance sendo narrado em primeira pessoa (por Brás Cubas), há possibilidades, espaços nesta narrativa para personagens e reflexões.
Estes vários pontos de vista fazem o leitor compreender que não há uma grande verdade absoluta e sim várias verdades, todas transitórias.

Alguns aspectos da estratégia narrativa em "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

O insulto à verossimilhança e ao senso comum surgem com a presença de um defunto narrador que não respeita o conceito de tempo em sua narrativa, o que muito sugere um enfrentamento do autor de "Memórias Póstumas..." com as propostas do Realismo/Naturalismo, cantadas em verso e prosa. Essa atitude vai contra a idéia de mímeses, da imitação, pois Machado de Assis funde idéias diferentes e, assim, caminha para um paradoxo, quebrando o elo de reprodução literária. Com altas doses de cinismo e ironia, o tom do narrador propõe uma postura crítica da sociedade (que passa longe tanto da mitificação de uma natureza selvagem como símbolo de essência da nação quanto ao auto-mitificação que é expressa no contexto romântico).
Brás, por várias vezes, interrompe a intriga para fazer comentários que, aparentemente, parecem não ser relevantes. Entretanto, ao fim do romance, uma unidade é formada e o leitor, espantado com as idas e vindas dentro da obra, reconhece um conjunto harmonioso e verdadeiro.

"Bartleby" - Melville's tale

Bartleby is a scrivener that answers an ad of the office where the narrator (the boss) and Nippers and Turkey (two scriveners) work. The narrator, first, imagines that Bartleby will calm the temperaments of the other scriveners. However, when he listens to the first of Bartleby's many refusals, the dismay of the narrator and the irritation of the other employees are explicit.
Bartleby does not seem to have place in society. When he is asked about something, he always says: "I would prefer not to". The story happens in a Wall Street office, a place of movement. Bartleby is the irony of the story. He is the contrast, a stationary character.
There is also the idea of conformity against nonconformity. Bartleby insists on his "I would prefer not to". In the end of the story, he dies from starvation because he "preferred no to" eat. At the same time, the movement in Wall Street does not stop. That is society's progress.

The idea of guilt in "The Scarlet Letter"

The idea of guilt in "The Scarlet Letter", based on 'the difference between shaming someone in public and allowing him or her to suffer the consequences of an unjust act privately', can be seen in Hestern Prynne and Arthur Dimmesdale.
Hertern bears on her chest the scarlet letter 'A' the represents the act of adultery that she has committed. The scarlet letter 'A' is a symbol of her sin for everybody to see, her public shaming, her punishment.
Arthur Dimmesdale (a theologian) and Hestern Prynne became lovers and he never confessed it publicly (he never confessed that he was the father of Pearl either). He deals with his guilt by tormenting himself, and, because of that, develops a heart condition as a result.
As we can see, while Hestern Prynne faces a public shaming, Arthur Dimmesdale suffers the consequences privately.

The importance of the creation of a truly American setting in the novels of James Fenimore Cooper

James Fenimore Cooper created distinctive American novels. His idea was to acquaint all mankind with American facts and ideas. He believed that the most important thing for American literature was to have its own past-events, characters, themes and writers with their techniques of narration and style. Cooper based himself on the recent past to write against an established background. His novels were not mere adventures yarns. His sytle was not simply artistic. He was the responsible for the creation of an American standard of expression.
Cooper wrote a series of stories called "The Leather - Stocking Tales" and in the one of these stories, named "The Last of the Mohicans", it is possible to recognize an American setting. There was the battle between France and the Kingdom of Great Britain for the control of the American colonies (the story takes place in 1757 but the publication is from 1826) and this battle happened in the American continent. In another story of "The Leather - Stocking Tales", called "The Pathfinder", Natty Bumppoo (Cooper's main character) is considered an expert scout for the British armed forces because of his skill in the forest. And in another story named "The Deerslayer", the setting is on Otsego Lake in Central, upstate New York - the same setting of the first story published ("The Pioneers"). Cooper begins by relating the astonishing advance of civilization in New York state, which is the setting of four of his five 'Leather - Stocking Tales".

sábado, 21 de junho de 2008

Letras Tortas

É com grande satisfação que anuncio o nascimento de um grupo. O "Letras Tortas" nada mais é do que a reunião de amigos-estudantes de letras (e amantes do gênero) que bebem entre um Lima Barreto e um Edgar Allan Poe, um Augusto dos Anjos e um Walter Scott. Pode ser refrigerante, cerveja, caipirinha, vodka, água com ou sem gás, não importa. A literatura descompromissada numa mesa de bar é o que vale. Se a literariedade de cada um não der conta, fofocas, besteiras, piadas e bizarrices também serão aceitas (tudo na base da bebida e dos efeitos produzidos por ela).
Não se trata de um grupo fechado com ar de facção. O "Letras Tortas" é um grande abraço amigo, disposto a fazer novas amizades (principalmente aquelas que nos levam pra casa depois de termos enchido a cara!).

Eis aqueles que participaram do primeiro encontro do "Letras Tortas".

domingo, 18 de maio de 2008

X Salão Poético da AABB-RJ

No dia 18/05 aconteceu na AABB - RJ (Associação Atlética Banco do Brasil) o X Salão Poético. Foi comemorado o dia das mães e os oitenta anos da AABB. A coordenação do evento foi de responsabilidade de Eurídice Hespanhol Pessoa, Regina Marquez dos Reis Gonzalez e Evelyn Esteves.
Infelizmente não pude participar do encontro. Entretanto, deixo aqui registrado os poemas que eu gostaria de ter lido.

Mãe
Parto
primeira parte da vida
o início
o começo
e é nos seus braços
que o vício
do sossego
cria laços

na infãncia
você sempre perto
e eu, sempre coberto
de cuidados.

Na adolescência
as descobertas
as coisas
erradas
e certas
a realidade
nua e crua
e como quem não quer nada
você fala desta estrada
que um dia foi sua.

Na juventude
entendes o momento
porque passo mais tempo
na rua.

Quando se é gente grande
só mesmo um amor assim
pra fazer-te enxergar a criança
que ainda existe em mim.

Mãe
escrevo-te com três letras
no nosso dialeto
e deixo com inveja
todo o resto do alfabeto.


Zoom
Chove
são nove de uma manhã já anoitecida
meus olhos nublados caem atrás da cortina
são oito
afoito é o existir
impossível coibir o abismo que adverte
são sete
aperte o cinto
são seis, cinco
sinto-me num prato
espero o mastigar exato
são quatro
e o ato não tarda
sou vítima da nudez
que me lembra outra vez
são três
a queda é agora e não depois
são dois
essa é a hora, ora pois
o mergulho no incomum
hum.

O poema é o poeta
em zoom.

Dois anos de RATOS DI VERSOS!

Na quinta-feira, dia 15/05, no Beco dos Carmelitas, s/n, Lapa (ao lado do Beco do Rato), aconteceu a grande pajelança em comemoração aos 2 anos de existência inebriante do RATOS DI VERSOS!
Poesia, música, arte, papo furado, beijo na boca, bebidas, cinema, artes plásticas, tudo junto numa nota só!
Houve banquete de queijos e vinhos (afinal, são ratos boêmios) e muita alegria!
Eu, que estava presente, recitei "Poema-desertor".

quinta-feira, 13 de março de 2008

IX Salão Poético da AABB - 09/03/08

No último dia nove de março, foi realizado o IX Salão Poético no Salão Margarida da AABB-RJ (Associação Atlética Banco do Brasil). Comemorando o dia internacional da mulher (08) e o dia nacional da poesia (14), o evento contou com as presenças da pianista Ilka Jardim, o Grupo de poetas da APPERJ apresentando o texto manifesto e os poemas para o Partido Político da Poesia, e a apresentação livre de poetas.

Partido Político da Poesia (PPP).


A coordenação do evento ficou a cargo de Eurídice Hespanhol Pessoa, Regina Marquez dos Reis Gonzales, Marcelo Ottoni e Evelyn Esteves. A AABB fica na Av. Borges de Medeiros, 829, Lagoa.

Todos que participaram.


Bob Dylan - Rio Arena - 08/03/08

Com o fim do Pan-Americano, algumas instalações construídas especialmente para os Jogos estão agora abrigando grandes shows na cidade do Rio de Janeiro. Uma delas é a Arena Olímpica do Rio (Rio Arena) - uma arena multiuso que, no último dia 8 de Março, recebeu o homem que deixou Elvis com inveja, teve Lennon como grande fã e fez da gaita seu instrumento marcante: Bob Dylan.



Antes do show em solo carioca, porém, Bob fez duas apresentações em São Paulo. Fico espantado ao ler, na internet, tantas notas e resenhas falando mal de ambos os concertos. Algumas, inclusive, acusam o artista de hoje em dia ser uma "mera caricatura de si mesmo." Eu, como grande fã de Dylan, já havia comprado meu ingresso (o mais barato e com direito a meia-entrada - foi o que minhas aulas particulares permitiram). Que me perdoem meus amigos(?) paulistas. Não sei o que aconteceu em Sampa - se a banda não estava inspirada ou se Dylan não se sentiu confortável (o que não deve ter sido verdade pois, reza a lenda, antes de chegar ao Via Funchal, ele teria saído do carro e ido até o camarim a pé, andando entre a galera como um simples mortal que ele não é). O fato é que no Rio, things have changed.


As pessoas ainda procuravam um bom lugar para assistir ao show quando uma música clássica que eu não sei o nome (perdoem minha ignorância) toma conta do ambiente, como se nos avisasse que o grande momento estava perto. Uns cinco minutos depois, a tal música clássica pára e, ao mesmo tempo, as luzes são apagadas. O escuro só não é completo por causa dos flashes que pipocam sem parar. Quem olha para o palco religiosamente, percebe os músicos tomando suas posições. Robert Zimmerman está lá: chapéu preto, paletó cinza, çalça e sapatos pretos. Com sua banda "mafiosa" (todos vestidos de preto), ataca logo de cara com "Rainy day woman #12 & 35". A voz é rouca e a canção é mais falada do que cantada. Sim, é Bob Dylan.





A cada fim de música, o palco fica em total escuridão. Dylan sente cada canção. Vai no embalo, seja mexendo a cabeça ou as pernas. Mais que isto: parece pouco se importar com o passado e mostra que não parou no tempo. Prova disto são as ótimas canções de seu atual trabalho, "Modern Times" - "The leeve's gonna break", por exemplo. Já clássicos como "It ain't me be", "Masters of war", "Things have changed", "My back pages" e "Highway 61 Revisited", ou ganham um novo acompanhamento da banda, ou ganham uma nova forma de cantar (ou sussurrar?) de Dylan, tornado quase impossível acompanhá-lo.


O público também merece um destaque especial. Dividida entre a reverência e a perplexidade, a platéia encara o desafio de cantar com o ídolo. Em vão. Resta o prazer em ouví-lo. Sentadinhos, os presentes acompanham as músicas com palmas, outras vezes batem um dos pés e fingem ser o baterista de Dylan. Somente na penúltima canção da primeira parte do show, "Summer days", os Vips foram liberados a ficar pertinho do palco, pulando, gritando e acenando para Dylan. "Like a rolling stone" veio em seguida. Todos cantam a versão imortalizada enquanto Dylan improvisa a linha vocal. Não lembro de ter cantado recentemente o refrão de uma música com tanta vontade quanto aquele.


A banda sai. A galera pede, clama por Bob. Um pouco acima de mim, percebo três amigos se juntarem, usando a luz de seus celulares, para cantar "Blowin' in the wind". Alguns minutos depois, ele está de volta. Toca "Thunder on the mountain", cheia de improvisos. Por fim, "Blowin' in the wind" surge. O público quer cantar. Mas a melodia original é trocada por uma levada mais lenta, nem por isso menos aplaudida. Apesar do "conflito", a noite acaba com palmas entusiasmadas.


Saindo do Rio Arena, vejo Frejat (fã declarado de Dylan). Pergunto ao vocalista do Barão Vermelho o que achara do show. "Olha, eu gostei", disse com aquela cara de quem também não sabia o que havia acontecido em São Paulo. Ali, já não importava. As pessoas se indagavam, sim, se Dylan voltaria algum dia. The answer, my friend, is blowin' in the wind.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Poema-desertor

Meu poema não tem rima
Nem rima rica, milionária, bilionária
Que ganhou na Mega-Sena
E hoje limpa o cú com nota de cem,
Nem rima pobre, falida, miserável
Que, desdentada,
Fede sem ter onde cair morta.

Meu poema também não oferece várias interpretações
Possibilidades, sentidos,
Comentários que o levem a congressos, seminários,
Paletras, encontros, saraus, mesas de bar
Ele nem mesmo cabe em caderno, livro,
Bloco ou guardanapo.

É poema difícil, inquieto, incômodo, rebelde
Desertado do Olimpo por espetar a bunda dos deuses
Despir suas deusas
Adulterar seu vinho,
Expulso do paraíso como aquele anjo caído
Que hoje crava suas pegadas de fogo
Por essas bandas.

Meu poema tem o sagrado no maldito
O belo no grotesco
O verso no inverso de concursos, disputas, classificações
Dispensa prêmios, honras, aplausos, reconhecimento
O que ele diz, basta
O que ele é, basta.

Poema-desertor
Meu poema não é meu
Eu não sou do meu poema
Apenas temos interesses em comum
Prazeres a dividir
Oriundos de uma simpatia recíproca

Depois ele vai embora
E outro vem
Desacatar a ordem
Dar língua para o mestre
E fazer careta no tribunal.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Família Soneto

Sou neto de um soneto e tenho um pai versificado
Com mamãe fez direito um poema trabalhado
Um poema que, parido, pareceu cair na fria
Estava submetido a seguir a dinastia.

Na métrica e na rima, atendo o que esperam
Poema que se inclina a ser o que bem quiseram
Quatro estrofes me levantam - duas delas, quatro linhas
Juntas brilham e encantam, mas não tem poder sozinhas.

Tenho mais duas estrofes
Cada uma com três vozes
Pra alegrar a família.

Papai, mamãe, vovôzinho
Não são apenas meu ninho
São, sim, minha trilha.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Leia!!!


"Aos 25 anos, Arthur Rimbaud - o autor maldito de Uma estação no inferno, o pioneiro da poesia moderna, o amante de Paul Verlaine, o ídolo de Bob Dylan e Jim Morrison - abandonou de vez a literatura e a fama e partiu para uma viagem à África, onde sobreviveu durante 11 anos como comerciante, explorador e contrabandista de armas, e de onde só saiu para morrer, em marselha, em 1891, mutilado e infeliz. Em Rimbaud na África, o premiado escritor Charles Nicholl faz um levantamento minucioso dessa etapa pouco conhecida da vida de Rimbaud, que interpreta à luz de uma de suas frases mais célebres: "Je est un autre." Segundo Nicholl, é em busca desse outro que o poeta empreende sua fascinante e trágica jornada ao fundo da noite(...)."
  • Tradução: Mauro Pinheiro
  • Tradução dos poemas e leitura crítica: Ivo Barroso
  • Título original: Somebody else: Arthur Rimbaud in Africa

  • "Eu é um outro..."

Arthur Rimbaud, "Carta do vidente"

  • You lose yourself / You reapper / You suddenly find / You got nothing to fear..."

Bob Dylan, "It's Alright, Ma"

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Branco-virgem

O branco-virgem do papel
É convite ao estupro
Criança inocente
Calada
Estática
Prende o choro
E vê o homem sujo:
Ele vomita rios
Mares
Oceanos de sangue
Na velocidade de um gozo fora da lei.

Banquete a ser devorado
Pernas abertas
Quentes
Livres
Induzem o marginal
Ele se lambuza
E não recusa o animal em si.

Toda intensidade
E todo papel
Possuem um anel
De compromisso.

A pureza da planície branca
É cabaço
É lazer
É ofício.




  • Quinto poema da plaquete "Os Sete Espelhos Quebrados".

Leia!!!

" Assim como Sócrates, Buda e Jesus Cristo, Torquato não deixou livros".
Paulo Leminski
  • Toninho Vaz. Pra Mim Chega: a Biografia de Torquato. São Paulo: Casa Amarela, 2005.