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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cinco Dias São Paulo

A decolagem do avião é como tomar uma injeção: passa tão rápido que o medo que se sentia acaba ficando embaraçoso. Sair do Rio é olhar pela janela o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a praia de Copacabana. Chegar em São Paulo é ver prédios, prédios, prédios. Alguns impressionam bastante, assim como todos eles juntos vistos momentos antes do pouso.
Em São Paulo se anda. Não se engane se disserem que para chegar a tal lugar você tem que seguir esta rua e virar na segunda à esquerda. Você vai andar. Muito. Morgana e eu aprendemos na prática.
Porém, antes da lição, seguimos nosso roteiro com a ajuda do mapa. A Primavera dos Livros, com encenações de clássicos da literatura mundial e obras de diferentes gêneros à venda, acontecia ao lado da Biblioteca Mário de Andrade. De um para o outro, ouvimos uma sequência de "não pode isso, não pode aquilo"  que envergonharia aquele que empresta o nome à biblioteca. Descemos até a Praça da República "dos meus sonhos", de Roberto Piva - sonhos de outrora que hoje aconchegam cracudos, mendigos e mijo. Os sei-lá-quantos-andares da Galeria do Rock nos alertaram sobre o que ficou claro depois: em São Paulo se ouve Rock; em São Paulo se veste Rock; em São Paulo se vive Rock. A Galeria do Rock é só uma espécie de quartel general daquelas pessoas de preto que tantas vezes ainda encontraríamos pelo caminho.
Depois de passar pelo Teatro Municipal, pelo Viaduto do Chá e rodar por quase uma hora totalmente perdidos, chegamos ao hotel cansados, mas não o bastante para impedir nossa madrugada na Avenida Paulista.
Na volta, água gelada nas pernas (aprendi com meu pai) e diclofenaco dietilamônio para diminuir o cansaço e acordar bem. Era só o primeiro dia.


Acordamos e metemos o pé no asfalto. Do Anhangabaú chegamos ao bairro da Liberdade no meio de uma festa budista. Almoço, lembranças e outra caminhada até a Sé, o interior da sua catedral e sua saída de frente para a praça tomada  por fotos turísticas, evangélicos entusiasmados, moradores de rua e pessoas apressadas demais para dar atenção àquilo tudo.
O Pateo do Collegio foi o próximo destino. Um "olá" para o padre José de Anchieta e sua missa inaugural, um barulho dos infernos no sino da paz e chegamos ao Mercado Municipal. Pena que tarde. Mesmo assim ainda conhecemos o famoso Adoniran Barbosa! Na verdade era o boneco dele que fica na Salada Paulistana, dentro do Mercado. Estava valendo. Estava valendo até colocar chifrinho no pobre Adoniran, não é, Morgana?
A noite que reservava nossa primeira noite no Comedians começou com chuva, muita chuva. Tanta chuva que foi difícil chegar. Uma vez que lá já estávamos, conhecemos aquela que seria nossa "amiga" e que ainda nos acompanharia em outros lugares: a fila.
Depois de uma hora e alguma coisa na fila (menos mal que estávamos protegidos da chuva), foram risos e risos e até uma interação com o mestre de cerimônias da noite.
- Quem é de fora de São Paulo? Vocês. Vocês são de onde?
- Rio.
- Rio de Janeiro?
- Isso.
- Legal. De qual favela? (risada geral) Não, não é mais favela. É comunidade. Mas vocês são de onde no Rio?
- Engenho de Dentro e Quintino.
- Ah... são perigosos! (risada geral)
Depois dessa e muitas outras, voltar para o hotel debaixo de chuva só nos inspirou a parar em algum bar da Augusta e molhar a garganta antes de partirmos.


O dia amanheceu e fomos ao Parque Ibirapuera. Lá, Morgana me gravou falando um poema do Roberto Piva cujo título é exatamente "No Parque Ibirapuera" (poema com o qual trabalhei na Especialização. Também vale ressaltar que este poema faz parte do livro "Paranóia" que, por sua vez, é parte da minha pesquisa de Mestrado). Caminhando pelo parque, paramos no Museu AfroBrasil, onde a busca por um banheiro fez a gente se perder um do outro naquele labirinto à primeira vista longo e proposital (para chegar ao banheiro, você tem que passar por todo o acervo do museu). Nos encontramos do lado de fora.
A cena entorno do MAM era tomada por adolescentes com skates e patins; adolescentes com álcool e outras coisas a mais na mente já no começo da tarde; adolescentes que poderiam ser alunos da Morgana ou meus alunos, mas com certeza eram alunos de alguém. Do lado de dentro, vimos algumas daquelas coisas que as pessoas fingem entender e outras tantas que entendemos sem precisar fingir. Oswald e Mário, pintados por Anita Malfatti, estavam lá, mas minha relação com os Andrade ainda iria muito além da pintura.
Saindo do MAM, somos parados por alunos de comunicação. Eles nos pedem para responder algumas perguntas sobre redes sociais. Ok. Nossas respostas provavelmente aparecerão algum dia na internet.
Do MAM, passando pelo MAC, ao MIS para ver a exposição sobre o David Bowie. Ficamos com saudade da fila de uma hora e tal no Comedians perto da fila de quase quatro horas que enfrentaríamos. Nesse tempo, descobrimos que o Labão faria um show no Ibirapuera, onde estávamos mais cedo. Também nos revezávamos entre a fila e a venda de vinis que rolava mais à frente. E deu tempo até de comemorar o título do Flamengo e outro vice do Vasco via Twitter.
Uma vez na exposição, não tive a menor vontade de sair. Quase chorei ao ouvir "Starman" e ver a roupa usada por Bowie em um manequim com o clipe da canção em um canto totalmente espelhado da exposição.
Tantas e outras experiências ficaram nas lembranças durante nossa ida à Brigadeiro faria Lima. Morgana só queria comprar umas coisinhas, mas se viu no meio de lojas que ela só tinha visto até então em filmes (uma Louboutin, por exemplo). Seu espanto foi tanto que ligou na hora para a mãe para lhe contar. Eu não entendia nada.


Quando eu disse que minha relação com Oswald e Mário de Andrade não ficaria só na pintura de Anita Malfatti, era porque chegaria o dia de encontrá-los no Cemitério da Consolação. O dia chegou. No cemitério nos informaram onde estava Mário. Uma mulher que parecia ser funcionária do lugar nos apontou onde estava Mário. Ela ainda mostrou onde estava, segundo ela, a outra parte da família de Mário. Visitamos primeiro o poeta arlequinal. Morgana me gravou falando o poema "Quando eu morrer". Deixei um poema meu ali e nos dirigimos até o lugar no qual a suposta funcionária nos informou que estava o resto da família de Mário de Andrade. Encontramos o Oswald (que não tem, até aonde se sabe, parentesco algum com Mário). Desta vez, Morgana não só me gravou falando "quando o português chegou/debaixo de uma bruta chuva/vestiu o índio/que pena!/fosse uma manhã de sol/o índio tinha despido o português". Ela também se gravou falando o mesmo poema para provar que até ela, cuja memória não é das melhores, poderia decorar o poema. Eu, não. Também deixei meu poema ali e saímos debaixo da famosa garoa paulistana. Na entrada do cemitério, me dou conta de que meus óculos não estavam comigo. Eus os havia esquecido no túmulo do Mário. Pensei em retornar para pegá-los de volta. Morgana me disse: "deixa, deixa. Vai ver o Mário também queria os seus óculos". E lá eles ficaram.
Caminhamos até descobrir que a Kiss FM ficava por perto. Estávamos prontos para receber um "não". Não apenas visitamos a Kiss. A 89 também ficava no mesmo prédio. Fomos em ambas. Conhecemos geral. Foto e papo com o PH da 89 e com o Alexandre da Kiss. PH lembrou dos bons tempos de quando havia a parceria com a Rádio Cidade enquanto agradecíamos ao Alexandre pela chegada da Kiss ao Rio (mesmo ele não sendo o responsável por isso).
Fomos ao Masp (estava fechado), passamos pelo Trianon e paramos no Estadão para comer algo antes de chegarmos ao hotel. Nem demoramos muito. O Citibank Hall nos esperava. O Placebo esperava Morgana. Nós esperávamos um trânsito dos infernos. Não foi tão ruim assim. Acho que perdemos mais tempo nas filas já citadas.
Levei Morgana à casa de shows e fui agraciado por ela com a compra de um ingresso para mim. Não sou tão fã assim do Placebo, mas ou eu ficava lá dentro, na pista premium, ou lá fora, na chuva,no frio, no nada.
"Festa estranha com gente esquisita" é o verso que define bem o que é um show do Placebo. Não que seja ruim. Longe disso. Brian Molko não precisaria cantar, tamanha era a intimidade do público com a banda. "WE ARE LOUD LIKE LOVE".
Na volta, pegaríamos um táxi com um rapaz de São Luís do Maranhão que conhecemos lá. Não pegamos. Só arrumavam táxi com preço fechado (o que é contra a lei). Nada de taxímetro. "Não saí do Rio para dar uma de otária em São Paulo", disse Morgana. Pegamos um ônibus, o que foi lucro para os três. O rapaz ficou perto da Paulista e nós seguimos até o Terminal Bandeira, de onde andamos até a Santo Amaro. O dia seguinte seria o dia de deixar o Central Plaza Flat, a rua Santo Amaro, o bairro Bela Vista, a cidade de São Paulo.


A despedida de São Paulo com chuva não foi problema. O problema foi saber no aeroporto que a mesma chuva tinha fechado o Santos Dumont, no Rio. Ou seja: nosso voo, que seria às 12:55, virara uma possibilidade de voo lá para as 16:00.
Recebemos um voucher para almoçar. Teria sido um baita de um almoço se não tivéssemos comido ates do voo, o voo das 12:55. Almoçamos na base do "vai que dá". Mais algumas horas de Congonhas, Congonhas, Congonhas... e finalmente o embarque. Morgana tentava dormir, o que era bastante difícil com a Naty Graciano, do CQC, falando mais do que todos os CQCs juntos. Na ida, a Alcione fez o favor de dormir. Na ida, eu que não deixei Morgana dormir, puxando conversa com ela para disfarçar, sem sucesso, meu nervosismo.
Passamos por cima do Engenhão. Pensei em descer ali mesmo, mas o piloto não parou no ponto. Sim, o piloto não parou no ponto. Eu já estava de volta ao Rio.






Fotos da viagem em:
  https://www.facebook.com/diocosta/media_set?set=a.10202077949853558.1073741833.1331524105&type=1


Um comentário:

ana chiara disse...

Dio,

olha que sorte...achei este post seu...piva parabéns!