Chacal, eu e Drummond ao fundo.
sábado, 10 de novembro de 2007
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Mulher-abismo
Mulher-abismo...
O precipício nos olhos
Me espera atrás da neblina
Teu penhasco tem meus pés
Como a cabeça aguarda a guilhotina
Digo que não me dou
Mas lembro quem sou
E vou depressa
Juntos somos maus
- eis a essência do caos que começa.
Abrimos as portas proibidas
Dos nossos pecados
O tapete vermelho nos recebe
Com o sangue dos teus lábios
Poço sem fundo
À margem de um mundo medroso
Este é só um capítulo
Do nosso círculo vicioso.
O resto é protesto
Da caretice sem conteúdo
Pegamos fogo
Das profundezas ao topo
Queimamos tudo!
Eu quero mais é sabotar meu pára-quedas
Com a intenção
De cair na tua panela
E ver quantos graus tem essa pressão.
O precipício nos olhos
Me espera atrás da neblina
Teu penhasco tem meus pés
Como a cabeça aguarda a guilhotina
Digo que não me dou
Mas lembro quem sou
E vou depressa
Juntos somos maus
- eis a essência do caos que começa.
Abrimos as portas proibidas
Dos nossos pecados
O tapete vermelho nos recebe
Com o sangue dos teus lábios
Poço sem fundo
À margem de um mundo medroso
Este é só um capítulo
Do nosso círculo vicioso.
O resto é protesto
Da caretice sem conteúdo
Pegamos fogo
Das profundezas ao topo
Queimamos tudo!
Eu quero mais é sabotar meu pára-quedas
Com a intenção
De cair na tua panela
E ver quantos graus tem essa pressão.
Vida Edifício
Pela vida eu esperava
esperava
esperava
e enquanto ela não vinha
vinho
vinho
vinho...
Depois de nove taças
eu já tinha asas.
Fui procurá-la em vão
só encontrei o chão
lá sim
vi que a vida não é casa
a vida não é mansão
a vida não é barraco
a vida edifício.
esperava
esperava
e enquanto ela não vinha
vinho
vinho
vinho...
Depois de nove taças
eu já tinha asas.
Fui procurá-la em vão
só encontrei o chão
lá sim
vi que a vida não é casa
a vida não é mansão
a vida não é barraco
a vida edifício.
Homem de carne e osso
Sou humano
sou homem de carne e osso
meu mundo
é no fundo do poço
aliás
sempre aprendo
a me afundar mais
com meus defeitos
todos juntos
ou um por vez.
Os antigos
eu renovo por mês
os recentes se perguntam
se perguntam quem os fez
e eu me pergunto
muito
muito
muito
se pra suportar um de mim
eu devia ser três.
sou homem de carne e osso
meu mundo
é no fundo do poço
aliás
sempre aprendo
a me afundar mais
com meus defeitos
todos juntos
ou um por vez.
Os antigos
eu renovo por mês
os recentes se perguntam
se perguntam quem os fez
e eu me pergunto
muito
muito
muito
se pra suportar um de mim
eu devia ser três.
Nada
Quero escrever
Não sei sobre o quê
Falta assunto
Mas a vontade de escrever é tanta
Que até a falta de assunto
Vira assunto pra eu escrever.
Nada acontece
Nada surge
Nada surpreende.
Esse nada é realmente um sujeito quente
Seqüestrou as surpresas e os acontecimentos
De cada minuto da vida
Só pra ser a estrela maior deste meu poema.
Não sei sobre o quê
Falta assunto
Mas a vontade de escrever é tanta
Que até a falta de assunto
Vira assunto pra eu escrever.
Nada acontece
Nada surge
Nada surpreende.
Esse nada é realmente um sujeito quente
Seqüestrou as surpresas e os acontecimentos
De cada minuto da vida
Só pra ser a estrela maior deste meu poema.
Bienal do Livro - 2007
A gosto
Provavelmente o leitor já ouviu dizer que agosto é o mês do desgosto, não é mesmo? Fatos lamentáveis costumam acontecer neste período do ano, fazendo com que cada dia deste mês seja uma apreensão só. Sim, meu caro, também tenho uma ponta de descontentamento por este fatídico mês. Nada contra os que possuem suas razões para comemorar, mas tal desgosto vem da ausência, da falta de dois ícones, dois mitos que, coincidentemente ou não, partiram em um mês de agosto. Gente eternizada em obras que servirão para mostrar aos alienígenas nossa história. Gente que ainda será lembrada por mais uns 300 anos no mínimo, como Mozart e Camões são até hoje. Ok, estamos em setembro. E daí? Agosto ainda não se foi para esta crônica.
Frases como “É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”, “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” e “O sonho acabou” marcaram época, moldaram o século XX. Mas talvez nenhuma delas tenha sido tão levada a sério, tão repetida a exaustão quanto “Elvis não morreu”. No último dia 16, fez trinta anos de sua morte ou, para os mais fanáticos, fez trinta anos que ele largou a vida artística para viver no Hawaí ensinando caratê. Caso seja verdade, o Elvis de hoje, com 72 anos, poderia estar em qualquer lugar. O fato é que Elvis Aron Presley entrou para a história como o maior representante daquele Rock and Roll puro, simples e devastador, com seu topete, gola alta, costeleta e um jeito provocante de dançar – o que influenciou gerações. Mais uma vez, Graceland recebeu fãs do mundo inteiro. Quem não pôde ir, como eu, homenageou o ídolo ouvindo sua música, cantando um sucesso, arranhando um violão, assistindo um dos seus filmes ou um dos vários artistas-cover que o reverenciam.
Mas a falta não foi apenas do cantor. O dia 17 também mereceu destaque como outro dia recheado de lembranças e recordações. Tudo por causa de um mineiro de Itabira, do Rio, do Brasil, do mundo! Do mundo da poesia.
Vinte anos sem Drummond. Quem diria?! Mas, será mesmo que já estamos há duas décadas sem nada novo do poeta? Pouco importa, pois Drummond é atemporal. Sempre há algo para ser descoberto. Seus textos, crônicas e poemas são tão atuais que tenho a impressão de que a qualquer hora encontrá-lo-ei caminhando calmamente pelas ruas de sua Copacabana e não uma estátua cuja principal função é amenizar a saudade.
Carlos Drummond de Andrade, gauche que exalou confidências e decidiu não ser o poeta de um mundo caduco, escolheu o Rio de Janeiro como sua cidade e transformou Itabira, sua terra natal, em uma fotografia na estante. Poeta-lutador que fez uma flor nascer na rua por ter o sentimento do mundo, mostrou como procurar e não procurar a poesia. Poesia, o que seria de ti sem aquela pedra no meio do caminho, sem o impossível Drummond? A inevitável pergunta viria à tona: e agora, Carlos?
Elvis está em minha coleção de discos de vinil (sim, discos de vinil!) assim como Drummond está em minha “quadrilha” de poetas preferidos. Um acorde ali, um verso aqui, e ambos se encontram e encontram quem os admire mutuamente. Agora sim, o mês de agosto acabou.
Frases como “É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”, “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” e “O sonho acabou” marcaram época, moldaram o século XX. Mas talvez nenhuma delas tenha sido tão levada a sério, tão repetida a exaustão quanto “Elvis não morreu”. No último dia 16, fez trinta anos de sua morte ou, para os mais fanáticos, fez trinta anos que ele largou a vida artística para viver no Hawaí ensinando caratê. Caso seja verdade, o Elvis de hoje, com 72 anos, poderia estar em qualquer lugar. O fato é que Elvis Aron Presley entrou para a história como o maior representante daquele Rock and Roll puro, simples e devastador, com seu topete, gola alta, costeleta e um jeito provocante de dançar – o que influenciou gerações. Mais uma vez, Graceland recebeu fãs do mundo inteiro. Quem não pôde ir, como eu, homenageou o ídolo ouvindo sua música, cantando um sucesso, arranhando um violão, assistindo um dos seus filmes ou um dos vários artistas-cover que o reverenciam.
Mas a falta não foi apenas do cantor. O dia 17 também mereceu destaque como outro dia recheado de lembranças e recordações. Tudo por causa de um mineiro de Itabira, do Rio, do Brasil, do mundo! Do mundo da poesia.
Vinte anos sem Drummond. Quem diria?! Mas, será mesmo que já estamos há duas décadas sem nada novo do poeta? Pouco importa, pois Drummond é atemporal. Sempre há algo para ser descoberto. Seus textos, crônicas e poemas são tão atuais que tenho a impressão de que a qualquer hora encontrá-lo-ei caminhando calmamente pelas ruas de sua Copacabana e não uma estátua cuja principal função é amenizar a saudade.
Carlos Drummond de Andrade, gauche que exalou confidências e decidiu não ser o poeta de um mundo caduco, escolheu o Rio de Janeiro como sua cidade e transformou Itabira, sua terra natal, em uma fotografia na estante. Poeta-lutador que fez uma flor nascer na rua por ter o sentimento do mundo, mostrou como procurar e não procurar a poesia. Poesia, o que seria de ti sem aquela pedra no meio do caminho, sem o impossível Drummond? A inevitável pergunta viria à tona: e agora, Carlos?
Elvis está em minha coleção de discos de vinil (sim, discos de vinil!) assim como Drummond está em minha “quadrilha” de poetas preferidos. Um acorde ali, um verso aqui, e ambos se encontram e encontram quem os admire mutuamente. Agora sim, o mês de agosto acabou.
"Nem só de Pan vive o homem".
É com grande prazer que estréio como cronista logo na primeiríssima edição do Jornal com Letras – este suado projeto dos meus amigos de curso – trazendo à tona o Pan-Americano – evento que, juntamente com morros invadidos e escândalos políticos, tem tomado de assalto o noticiário.
Confesso a você, caro leitor, que tenho o hábito, o costume, a mania, o vício de ouvir rádio AM. Não sei se pelo fato de não suportar a programação das FMs ou se porque busco estar sempre bem informado. A questão é que vivo ligado nas notícias que vem e vão, nos debates que abordam temas polêmicos e na nossa paixão nacional: a bunda? A cerveja? Não, o futebol!
Mas o tema desta crônica surgiu mesmo de uma dessas discussões acaloradas que acompanho quase que religiosamente. O assunto era a importância da realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. “Imaginem o quanto o Rio será divulgado! O continente americano e o mundo estarão voltados para nós!”, disse um debatedor. “Haverá uma melhoria no transporte público. Uma nova estrutura será implantada e os cariocas herdarão este presente”, bradou outro. “E um grande investimento na segurança está sendo feito para que possamos ter êxito na realização desta competição. O presidente, o governador, o prefeito e não-sei-mais-quem estão trabalhando para...”, empolgou-se um deles. Ou seja, a maioria defendia esta idéia de que o Pan salvaria o Rio.
De repente, uma alma ali se fez presente. Um espírito iluminado, cuja luz respingou em mim, remou contra a maré. “Realmente, o Rio de Janeiro vai melhorar muito com o Pan, não é? Vai melhorar o transporte, a segurança, a saúde. Só não sei quantos Pan-Americanos precisarão acontecer aqui para que nossa cidade não sofra mais com tanto descaso”. Fez-se o silêncio. “Também não sei quantas Copas do Mundo, quantas Olimpíadas farão nossos governantes lembrarem que há um povo inteiro esperando pela boa vontade deles. Mascaram a cidade varrendo lixo pra debaixo do tapete quando julgam ser necessário. Quando não importa mais, voltam a miséria e a indiferença. Mostram-se participativos na realização do Pan para conseguir votos futuros. ‘No Pan do Rio de Janeiro, fui eu que fiz isso, aquilo e aquilo outro’, dirão. Invetem em transporte, em segurança, mas não investem em educação. Sabem a razão? O resultado demora a aparecer. Eles precisam de algo para agora! 2007! Pan-Americano! O mundo estará nos vendo!!! Como diz um amigo meu:nem só de Pan vive o homem”. Eu me vi naquela voz. Em cada palavra, em cada ironia, em cada revolta, em cada verdade colocada naquele discurso.
Trocadilhos à parte, o amigo tinha (e tem) razão. O Pan irá embora. Tirarão o doce da nossa boca, prezado leitor, e ficaremos a chorar pelo Pan de cada dia entre balas perdidas e políticos reeleitos.
Confesso a você, caro leitor, que tenho o hábito, o costume, a mania, o vício de ouvir rádio AM. Não sei se pelo fato de não suportar a programação das FMs ou se porque busco estar sempre bem informado. A questão é que vivo ligado nas notícias que vem e vão, nos debates que abordam temas polêmicos e na nossa paixão nacional: a bunda? A cerveja? Não, o futebol!
Mas o tema desta crônica surgiu mesmo de uma dessas discussões acaloradas que acompanho quase que religiosamente. O assunto era a importância da realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. “Imaginem o quanto o Rio será divulgado! O continente americano e o mundo estarão voltados para nós!”, disse um debatedor. “Haverá uma melhoria no transporte público. Uma nova estrutura será implantada e os cariocas herdarão este presente”, bradou outro. “E um grande investimento na segurança está sendo feito para que possamos ter êxito na realização desta competição. O presidente, o governador, o prefeito e não-sei-mais-quem estão trabalhando para...”, empolgou-se um deles. Ou seja, a maioria defendia esta idéia de que o Pan salvaria o Rio.
De repente, uma alma ali se fez presente. Um espírito iluminado, cuja luz respingou em mim, remou contra a maré. “Realmente, o Rio de Janeiro vai melhorar muito com o Pan, não é? Vai melhorar o transporte, a segurança, a saúde. Só não sei quantos Pan-Americanos precisarão acontecer aqui para que nossa cidade não sofra mais com tanto descaso”. Fez-se o silêncio. “Também não sei quantas Copas do Mundo, quantas Olimpíadas farão nossos governantes lembrarem que há um povo inteiro esperando pela boa vontade deles. Mascaram a cidade varrendo lixo pra debaixo do tapete quando julgam ser necessário. Quando não importa mais, voltam a miséria e a indiferença. Mostram-se participativos na realização do Pan para conseguir votos futuros. ‘No Pan do Rio de Janeiro, fui eu que fiz isso, aquilo e aquilo outro’, dirão. Invetem em transporte, em segurança, mas não investem em educação. Sabem a razão? O resultado demora a aparecer. Eles precisam de algo para agora! 2007! Pan-Americano! O mundo estará nos vendo!!! Como diz um amigo meu:nem só de Pan vive o homem”. Eu me vi naquela voz. Em cada palavra, em cada ironia, em cada revolta, em cada verdade colocada naquele discurso.
Trocadilhos à parte, o amigo tinha (e tem) razão. O Pan irá embora. Tirarão o doce da nossa boca, prezado leitor, e ficaremos a chorar pelo Pan de cada dia entre balas perdidas e políticos reeleitos.
Texto para o coquetel de lançamento do Jornal com letras.
Com quantas letras se faz um jornal produzido por estudantes do curso de letras? Talvez com quatro: s-u-o-r (suor). Talvez com cinco: u-n-i-ã-o (união). Talvez com nove: d-e-d-i-c-a-ç-ã-o (dedicação). E quantas letras compõem nosso jornal? Todas elas. Todas as letras cabem aqui e são muito bem-vindas.
O ambiente de sala de aula nunca nos contentou por completo. Pelos corredores, idéias borbulhavam em rodinhas despretensiosas. Até que alguém disse: “que tal um jornal?”. Vários responderam: “Sim, legal!”. Mas pra idéia ganhar forma, corpo, foi preciso muito mais do que respostas positivas. Como futuros docentes, sabemos que este profissional da educação deve ser um constante e incansável aprendiz. Tendo como base esta convicção, alunos se alistaram. Tomaram conhecimento do tamanho da missão e foram até o fim, em nome de um resultado que os orgulhasse. Professores e coordenadores do curso de letras, amigos do curso de Comunicação Social e funcionários da Faculdade CCAA entenderam nossa vontade de produzir e nos auxiliaram no que foi preciso. Até do comércio do bairro tivemos ajuda para que este dia chegasse. Muitas horas de descanso precisaram ser sacrificadas em prol de um desejo que martelava nossa alma. Inglês, Espanhol, Literatura, Poesia..., a sensação é de que nada foi em vão. Temos nosso sonho materializado e exposto para quem tem sede de cultura e saber.
Dizem que o conhecimento é uma curva; se você não vira, dá de cara no muro. Pois bem, hoje, dia 29 do mês de junho do ano de 2007, temos o orgulho (com lágrimas nos olhos ou não) de apresentar nossa curva. Sim, desviamos do lugar comum. E esperamos que vocês venham conosco neste veículo.
O ambiente de sala de aula nunca nos contentou por completo. Pelos corredores, idéias borbulhavam em rodinhas despretensiosas. Até que alguém disse: “que tal um jornal?”. Vários responderam: “Sim, legal!”. Mas pra idéia ganhar forma, corpo, foi preciso muito mais do que respostas positivas. Como futuros docentes, sabemos que este profissional da educação deve ser um constante e incansável aprendiz. Tendo como base esta convicção, alunos se alistaram. Tomaram conhecimento do tamanho da missão e foram até o fim, em nome de um resultado que os orgulhasse. Professores e coordenadores do curso de letras, amigos do curso de Comunicação Social e funcionários da Faculdade CCAA entenderam nossa vontade de produzir e nos auxiliaram no que foi preciso. Até do comércio do bairro tivemos ajuda para que este dia chegasse. Muitas horas de descanso precisaram ser sacrificadas em prol de um desejo que martelava nossa alma. Inglês, Espanhol, Literatura, Poesia..., a sensação é de que nada foi em vão. Temos nosso sonho materializado e exposto para quem tem sede de cultura e saber.
Dizem que o conhecimento é uma curva; se você não vira, dá de cara no muro. Pois bem, hoje, dia 29 do mês de junho do ano de 2007, temos o orgulho (com lágrimas nos olhos ou não) de apresentar nossa curva. Sim, desviamos do lugar comum. E esperamos que vocês venham conosco neste veículo.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Breve leitura de "Uma estadia no inferno", de Arthur Rimbaud.
Único livro que Arthur Rimbaud publicou em vida, Une Saison en Enfer, "Uma estação no inferno" (ou como já foi traduzido, "Uma estadia no inferno") é uma prodigiosa autobiografia psicológica do menino de 17 anos que viveu a vida como se ela fosse um inferno. A estação deste inferno seria uma estação do trem chamado vida? Se trabalhássemos com o título "Um estadia no inferno", poderíamos dizer que esta estadia era passageira? Destacaremos algumas passagens deste livro para entender melhor a obra de Jean Nicolas Arthur Rimbaud.No início de “Uma estadia...”, Rimbaud escreve: “... meu caro Satanás, vos conjuro, uma pupila menos irritada! E aguardando algumas pequenas covardias atrasadas, vós que amais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou instrutivas, vos destaco estas horrendas folhas...”. Logo na abertura de sua obra, Rimbaud deixa claro sua preferência pelo o que é considerado o lado “negro” da vida. Não que esta preferência fosse para chocar sua família, seus amigos ou quem quer que fosse. Como ele mesmo disse, “... meu caro Satanás, vos conjuro, uma pupila menos irritada...”. Era mais fácil seu contato com Satã do que com Deus. E seu lado, digamos, demoníaco, era constante tanto na vida quanto nos escritos.Em “Sangue mau”, uma frase chama a atenção: “ A mão na pena vale a mão na enxada”. Desde cedo, mesmo quando ainda era estudante, os escritos de Rimbaud já eram classificados por seus professores como excelentes. A vida desregrada e a poesia aflorada pareciam dizer: “Trabalhar para quê? Você é poeta!”. A afirmação de que o trabalho dignifica o homem cai por terra mais ainda quando ele afirma: “A honestidade da mendicância me aflige”. É como se ele quissesse dizer: “Quem quer trabalhar podendo viver pedindo dinheiro aos outros?” Mesmo assim, a sociedade preferia o trabalho que Rimbaud encarava como “mentiroso”. Eis seu motivo de tanta aflição.Ainda em “Sangue mau”, o tema Cristo versus Satã volta a ser mencionado: “O espírito está próximo, porque Cristo não me ajuda, dando à minha alma nobreza e liberdade”. Esta nobreza e liberdade parecem existir unicamente pelo fato do poeta não querer ajuda divina. Uma luz que o ajudasse a compreender a si mesmo. E é essa vida sem Cristo que faz seu espírito nobre e livre. Livre para acreditar no que quiser. Entretanto, mesmo Satanás sendo uma “pupila menos irritada”, o flerte com Deus aparece: “Espero Deus feito um guloso”. É a esperança de que esta pupila mais irritada fique boa.No mesmo capítulo, o poeta escreve: “Nas estradas, pelas noites de inverno, sem lar, sem roupas, sem pão, uma voz apertava meu coração gelado: ‘fraqueza ou força: eis-te, é a força. Não sabes aonde vais nem porque vais, entra em todo lugar, responde a tudo. Não te matarão mais do que fosses cadáver’. De manhã, eu tinha o olhar tão perdido e a postura tão morta, que aqueles que encontrei talvez não me vissem”. Pela primeira vez entra em cena o vidente Rimbaud. Há toda uma questão se Rimbaud era mesmo vidente ou se isso era apenas uma imagem ou uma metáfora. Todavia, aqueles que não acreditam em nada que não esteja explicado nos livros perdem uma das grandes forças da poesia. Rimbaud via e ouvia coisas que para ele eram verdadeiras. Era a ciência, a medicina, a filosofia e “os divertimentos dos príncipes e os jogos que eles proibiram! Geografia, cosmografia, mecânica, química!...”. Mas como o próprio Rimbaud também escreve: “... e não sabendo como explicar-me sem palavras pagãs, queria calar-me”. “Se Deus me concedesse a calma celeste, aérea, a reza – como os antigos santos – Os santos! São fortes!... Farsa contínua! A minha inocência me faria chorar. A vida é a farsa a ser levada por todos”. Aqui, Rimbaud enumera tudo o que Deus não lhe deu e chama a vida de “farsa” assim como o trabalho para ele é mentiroso. Ele enxerga a vida como uma farsa por ver além do que um simples mortal pode ver.No seguinte capítulo, entitulado “Noite no inferno”, Rimbaud inicia descrevendo um veneno que tomara e que o fizera ficar mais perto de Satanás: “É o inferno, eterna pena! Vejam como o fogo se levanta! Queimo como deve. Vá, demônio!”. Adiante, o vidente retorna: “As alucinações são inúmeras. É bem o que eu sempre tive: sem fé na história, o esquecimento dos princípios. Calarei isto: poetas e visionários ficariam com ciúmes. Sou mil vezes o mais rico, sejamos avarentos como o mar”. Há aparentemente um costume já aceitável. As alucinações sempre estiveram presentes. Seriam elas as responsáveis pelo lado vidente do poeta? “Satanás, brincalhão, você quer me dissolver, com teus charmes”. Mais uma clara evidência de que o demônio era mais presente do que Cristo.Em “Delírios I – Virgem Louca / O esposo infernal”, Rimbaud narra a confissão de um companheiro de inferno que na verdade é companheira. A companheira é a esposa do Diabo. Esta amante do demônio descreve-o como uma criatura que vive numa certa ambigüidade: ao mesmo tempo que este ser é malvado, mesquinho e sem escrúpulos, também mostra-se piedoso, inteligente e astuto. “Eu o seguia, é preciso!”. Tal sentença demonstra que esta mulher não tinha escolha. Seu destino era mesmo ficar ao lado de Satã. E o trecho final deste capítulo é recheado de ironia: “ ‘Um dia talvez ele desaparecerá maravilhosamente; mas é preciso que eu saiba, se ele deve subir para um céu, que eu veja um pouco a assunção (subida ao céu da Virgem Maria) do meu amiguinho’”. Ficam as dúvidas: esta mulher seria uma alucinação? Ela de fato existiu? Ou seria o próprio Rimbaud?No capítulo seguinte, “Delírios II – Alquimia do verbo”, Rimbaud explica o que fez seu verbo ser “acessível, cedo ou tarde, a todos os sentidos”. Eis sua explicação: “Eu me acostumava com a alucinação simples: eu via muito francamente uma mesquita no lugar de uma fábrica, uma escola de tambores feita por anjos, coches nas estradas do céu, um salão no fundo de um lago; os monstros, os mistérios; um título de comédia levantava horrores na minha frente. Depois explicava meus sofismas mágicos com a alucinação das palavras. Acabei por achar sagrada a desordem do meu espírito”. As imagens que Rimbaud via lhe eram reais. O que no começo chocava, agora tinha virado um costume. De suas alucinações vem a grande força de sua poesia. Pensando desta forma, talvez se seu espírito não fosse o que foi, a pessoa Arthur Rimbaud não teria sido o poeta Arthur Rimbaud.Apesar de achar “sagrada” toda esta falta de ordem no seu espírito, não era fácil para ele lidar com isto: “Meu temperamento se amargurava. Eu dizia adeus ao mundo em cantigas”. É quando o poeta cita “Canção da mais alta torre” como uma destas cantigas com tal significado.No capítulo “O impossível”, ele diz que “meus dois tostões de razão acabaram!” É a visão definitiva de que não haveria mais espaço para a razão. A loucura que sempre lhe foi companheira torna-se ainda mais forte (loucura de acordo com aqueles que não entendiam sua persona e o próprio Rimbaud era uma delas). “Mandei ao Diabo as palmas dos mártires, os raios da arte, o orgulho dos inventores...”. Aqui Rimbaud mostra que não é só ele que está com o demônio. Os inventores, tão perseguidos na época de Rimbaud também estavam, digamos “no mesmo barco”. Toda pessoa envolvida com a arte tem um pouco do Diabo em si. Isso nos remete à Platão, quando ele diz, na República, que o poeta é um ser nocivo para a sociedade por desviá-la do caminho certo para a construção da sociedade perfeita. Rimbaud era assim e tentava enxergar nos seus contemporâneos um pouco deste lado revolucionário que cada poeta ou inventor tem.Em “O relâmpago”, o poeta percebe que o fim da vida se aproxima. “A minha vida está gasta”. Rimbaud era um pouco esse relâmpago, que passou e iluminou gerações de poetas anárquicos. Porém, no mesmo capítulo, ele ainda mostra-se capaz de achar a morte muito simples para sua capacidade. “Não!não! agora me revolto contra a morte! O trabalho parece leve demais ao meu orgulho”.No antepenúltimo capítulo nomeado “Manhã”, Rimbaud faz uma espécie de análise de si próprio e tenta entender o porquê dele chegar a seu estado de fraqueza atual. Além disto, ele afirma: “No entanto, hoje, creio ter terminado o relato do meu inferno. Era mesmo o inferno; o antigo, aquele que o filho do homem abriu as portas”. Seria o verdadeiro inferno de Rimbaud tudo o que vinha da força divina? O paraíso dele era com o demônio?“Uma estadia no inferno” termina com “Adeus”. Neste capítulo, ele registra: “Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novas línguas. Pensei adquirir poderes sobrenaturais. Pois é! Devo enterrar minha imaginação e minhas lembranças! Uma bela glória de artista e contador levada embora!”. Já não importava mais se aquelas alucinações eram verdadeiras ou não, se ele era vidente ou não. Era momento de se retirar e guardar para si suas recordações.Sabe-se que esta “morte” de Rimbaud foi somente uma morte poética, pois nada mais foi registrado em seu nome. Rimbaud parou de escrever com 17, 18 anos e foi tentar a vida na África, onde faleceu aos 32 anos.Arthur Rimbaud chocou professores e poetas renomados. “Uma estadia...” trata o Diabo com tanto carinho e põe a figura de Deus tão distante do poeta que, numa época em que a igreja católica era forte, não havia como evitar o choque. É uma mistura de estranhamento e grotesco. Talvez sejam estas duas marcas em sua obra que o coloca como “pai” da poética moderna, poética esta que rompe com a clássica, por ser marcada pelo negativismo, enquanto a clássica é caracterizada pela busca do belo. Este negativismo é claro em Rimbaud assim como também é em Charles Baudelaire, outro grande poeta francês. Arthur Rimbaud foi o modernista que deu a mão ao Diabo por não alcançar a mão de Deus.
Uma visão particular da vida.
Desfrute do poder e da beleza de sua juventude.Oh, esqueça.Você só vai compreender o poder e a beleza de sua juventudequando já tiverem desaparecido.Mas, acredite em mim.Dentro de vinte anos,você olhará suas fotos e compreenderá,de um jeito que não pode compreender agora,quantas oportunidades se abriram pra você.Você não é tão gordo quanto imagina.Não se preocupe com o futuro.Ou se preocupe, se quiser,sabendo que a preocupação é tão eficazquanto tentar resolver uma equação de álgebra mascando chiclete.É quase certo que os problemas que realmente tem importância em sua vidasão aqueles que nunca passam por sua mentetipo aqueles que tomam conta de você às 4 da tarde em alguma terça-feira ociosa.Todos os dias faça alguma coisa que seja assustadora.Cante.Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável.Não tolere aqueles que agem de forma irresponvável em relação a você.Relaxe.Não perca tempo com inveja.Algumas vezes você ganha,algumas vezes você perde.A corrida é longa e, no final,tem que contar só com você.Lembre-se dos elogios que recebe.Esqueça os insultos(se conseguir fazer isso, me diga como).Guarde as cartas de amor.Jogue fora seus velhos extratos bancários.Estique-se.Não tenha sentimento de culpa se não sabe muito bem o que quer da vida.As pessoas mais interessantes que conheçonão tinham, aos 22 anos,nenhuma idéia do que fariam na vida.Algumas das pessoas interessantes de 40 anos que conheço ainda não sabem.Tome bastante cálcio.Seja gentil com seus joelhos.Você sentirá falta deles quando não funcionarem mais.Talvez você se case, talvez não.Talvez tenha filhos, talvez não.talvez se divorcie aos quarenta.Talvez dance uma valsinha quando fizer 75 anos de casamento.O que quer que faça, não se orgulhe nem se critique demais.Todas as suas escolhas tem 50% de chance de dar certocomo as escolhas de todos os demais.Curta seu corpo da maneira que puder.Não tenha medo dele ou do que as outras pessoas pensem dele.Ele é seu maior instrumento.Dance.Mesmo que o único lugar que você tenha para dançar seja sua sala de estar.Leia todas as indicações, mesmo que não as siga.Não leia revistas de beleza.A única coisa que elas fazem é mostrar você como uma pessoa feia.Saiba entender seus pais.Você nunca sabe a falta que vai sentir deles.Seja agradável com seus irmãos.Eles são seu melhor vínculo com seu passadoe aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão.Entenda que os amigos vão e vêm,mas que há um punhado deles, preciosos,que você tem que guardar com carinho.Trabalhe duro pra transpor os obstáculos geográficos e da vidaporque quanto mais você envelhecemais precisa das pessoas que conheceram você na juventude.More em Nova York.Mas mude-se antes que a cidade transforme você numa pessoa dura.More no norte da Califórnia.Mas mude-se antes de tornar-se uma pessoa muito mole.Viaje.Aceite certas verdades eternas:os preços sempre vão subir,os políticos são todos mulherengos,você também vai envelhecer,e quano envelhecer,vai fantasiar que, quando era jovem,os preços eram acessíveis,os políticos eram nobres de almae as crianças respeitavam os mais velhos.Respeite as pessoas mais velhas.Não espere apoio de ninguém.Talvez você tenha uma aposentadoria.Talvez tenha um cônjuge rico.Mas você nunca sabe quando um ou outro podem desaparecer.Não mexa muito em seu cabelo.Senão, quando tiver com quarenta anos,vai ficar com aparência de oitenta e cinco.Tenha cuidado com as pessoas que lhe dão conselhos,mas seja paciente com elas.Conselho é uma forma de nostalgia.Dar conselho é uma forma de resgatar o passado da lata do lixo,limpá-lo, esconder as partes feiase reciclá-lo por um preço maior do que realmente vale.P.S: Este texto foi escrito por um cidadão americado portador do vírus da Aids. Entre a descoberta da doença e sua morte, ele fez questão de deixar registrado sua impressão da vida.
Are men and women at the same level?
Every time there is a research whose main proposal is to know whether women are finally truly equal to men. It is not difficult to see different opinions. Some of them at least agree that women are equal to men; others disagree saying that women still have a long way to go before they reach the same level of men. It is interesting to analayze the reasons of each point of view. The ones who believe that women and men are at the same level use some examples to justify this opinion. They say that many governments have both male and female representatives, many companies are now owned or managed by women and a lot of progress has been made since 1960s. However, there are others who offer explanations in which the disagreement is clear. They affirm that most governments are still made up in their majority by men. Women still earn less than men in many companies because a hundred of years of history could not be changed in the last 40 years. In spite of this contrast, all the participants of the research have something in common: they understand that the women's progress is a necessity of modern life. More than this, women have been proving their professional capacity in hard times like these. People can agree and disagree about the situation of women in our society. On the other hand, they do not have any doubt to say that women still have a long road to go.
Heart diseases prevention
Everybody knows the importance of a healthy lifestyle in order to prevent health problems, especially heart diseases. Heart diseases commonly affect people who drink alcoholic beverages, smoke, have bad dietary habits and/or do not exercises regulary. Also, health conditions can be genetically passed from one generation to another. Other diseases, such as diabetes, can increase the risk of heart problems and strokes. If you are included in any of these situations, watch out. You are likely to have a cardiovascular disease. But it is never too late to improve your lifestyle and reduce the risks of having a heart problem. First, any physical activity is welcome. Then, reduce cholesterol and fats from your diet; manage your weight. And do not forget to visit the doctor to have a check-up, at least once a year.
Why is it that so many people are terrified of failure?
Life is a challenge which we cannot run away from. However, we just think about it when we are in trouble. In moments like these we are terrified of failure because we feel a necessity to be perfect. We can never forget the bills, our family, the boring boss... .It is a crazy life. The most important thing is to remember that life has a good side. Being successful at work or in an other activity is important, too, but the fear of failure cannot be bigger than the pleasure of living.
Going out in Rio
The majority of people love to go out in Rio - an interesting place to know nightclubs where we can find rock and roll bands playing great music. They are frequently visited by many people, tourists or not. As for the tourists want to know the main attractive points in Rio and the people from Rio consider nighclubs perfect places to forget about their hard day full of work. But, in nightclubs, beyond having a good time, fun and a chance to meet friends, you can listen to a live rock band playing some songs that you haven't listened for a long time. In nightclubs like these, you can also ask the band to play your favorite song. Suddenly, you sit at a table drinking some beer and listening your song. This kind of nightclub always has good music and, consequently, beautiful people dancing and enjoying themselves a lot. It is a good experience to spend the night in a rock nightclub in Rio. One thing is when somebody tells you what there is in this kind of place, the other is when you are there, in the middle of the people, looking and feeling what is happening. If you have a chance, you should go to a nightclub and discover what you do not know yet. You will have excellent stories to tell your grandchildren.
Como vai a docência na atualidade? E qual é a função docente?
Apesar da docência ser uma área de extrema importância para o desenvolvimento da sociedade, ela ainda é tratada como se não tivesse a importância que, de fato, têm. Sua depreciação é cada vez mais notória e os docentes, sofrem com tamanho descaso. Mas será que a docência está fadada a nunca ser reconhecida como merece? E os professores? Como ficam diante de tal questão?Todos sabem do pouco incentivo que o ensino recebe das autoridades: escolas mal cuidadas, equipamentos de baixa qualidade e o salário dos professores há tempos deixaram de ser a novidade do verão. Entretanto, a docência vêm se renovando. Esta renovação é marcada principalmente pelas alterações que o papel do docente tem sofrido ao longo das últimas décadas. Hoje em dia, partindo da filosofia da Pedagogia Progressista, o professor não mais representa a autoridade inquestionável dentro da sala de aula e sim, um facilitador da aprendizagem, abolindo o castigo físico e fazendo com que seus alunos expressem suas idéias.É lógico que a função do docente está de acordo com a tendência pedagógica escolhida pelo mesmo. Porém, independentemente da tendência escolhida, a docência segue sua estrada de espinhos aspirando dias melhores.
Será que José Ricardo está vivo?
José Ricardo era um integrante do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8) em meados dos anos 60. Vivendo no Rio de janeiro, recebeu a missão de viajar para São Paulo e lá, numa determinada praça, encontrar um homem com chapéu preto, camisa azul e calça cinza jeans. Este homem deveria receber informações ultra-secretas. Se caíssem em mãos erradas, muita coisa iria por água abaixo.Chegando em São Paulo, José dirigiu-se à praça onde aconteceria o encontro. De cara, viu o homem em questão sentado num dos bancos do lugar. Conferiu, de longe, as características: chapéu preto, camisa azul e calça cinza jeans. Sentou-se ao seu lado. Quando começou a dialogar com o cidadão, a surpresa: não era a pessoa que deveria ser e sim, um policial. O plano tinha sido descoberto um dia antes do encontro na praça.José Ricardo fora preso. Nunca mais se teve notícias dele.
Qual a diferença entre poética clássica e poética moderna?
Podemos dizer que a diferença entre a poética clássica e a moderna é: enquanto a primeira remete-se à tradição, à representatividade dos clássicos seguindo a linha academista responsável pela estética normativa, a segunda quebra este elo e passa a produzir a sua própria história.A poética clássica está ligada à imitação da natureza num todo. Desta arte origina-se o prazer. O homem reconhece sua habilidade ao reproduzir o que já existe na natureza, orgulhando-se de sua capacidade. "O homem regozijar-se, antes de tudo, por ter criado um artifício, por ter demonstrado a sua habilidade e por ter verificado de quanto era capaz" (Os pensadores, p. 45). Já a poética moderna, na figura de Hegel, afirma que a arte puramente imitativa está condenada à imperfeição. De acordo com esta visão, a arte deve ser expressiva. Ela deve ser a expressão do espírito. "Ora, o que torna estas representações particularmente imperfeitas é a ausência da espiritualidade" (Os pensadores, p. 47). Caso a arte seja entregue à regra, à imitação, ela não passará de uma simples abstração. Sua missão é justamente ir além. O prazer da arte meramente imitativa não se compara ao prazer de uma arte que pode ser sua. "Maior prazer deveria sentir o homem produzindo algo que proviesse de si, que lhe fosse próprio, a que pudesse chamar seu" (Os pensadores, p. 45). Enquanto o clássico se prende ao eterno, o moderno é mutável. Esta eternidade refere-se à tradição, à continuidade, à imitação dos clássicos, daquilo que era considerado o melhor. Em relação à mutação, que está aliada à modernidade, pode-se dizer que ela está relacionada com a questão histórica, com o lado humano.O conceito de objetividade está ligado à poética clássica. Ela possui uma verdade existente em si (eis o que a define). O ser humano necessita adequar-se à natureza para imitá-la. Natureza esta que tem a ver com a noção de eternidade. Já o conceito de subjetividade está ligado à poética moderna. Este conceito remete o ser humano à idéia de produção (aqui podemos dizer que a verdade, diferentemente da poética clássica, está para si. Tal fato resulta num estatuto pragmático. O homem liberta-se da natureza agora considerada uma prisão) e expressão (aqui temos o sentimentalismo). Aqui também encaixa-se a Teoria do Gênio - o homem liberta-se da natureza para humanizar-se. Mas, ao mesmo tempo, sente sua perda, a perda de sua origem. É justamente o gênio que faz esta ligação entre a natureza e a cultura.
Historinha de Aldir Blanc.
Historinha contada pelo grande compositor carioca-suburbano Aldir Blanc no programa do Jô: "O sujeito chegou num barzinho com uma mulher maravilhosa. Linda mesmo. Quando ambos sentaram, o mesmo sujeito percebeu que eles estavam de frente para um baixinho que encontrava-se sentado no mesmo bar. O baixinho era conhecido na redondeza como o conquistador. O cara que não dava mole. O sujeito, sabendo disso, ficou olhando mais pra ele do que pra mulher que o acompanhava. Já o baixinho olhava para o chão, nada mais. Porém o sujeito não tirava os olhos da pequena figura na intenção de pegá-la no flagra. Mas o baixinho parecia saber que, se tentasse algo, teria problemas. E assim as horas foram passando até que o sujeito levantou-se, foi até o baixinho e deu-lhe um soco que o fez cair longe. Enquanto algumas pessoas foram ajudar o porbre coitado (já sangrando), outras indagaram o sujeito:' Cara, pra quê isso? Ele não fez nada! Nem olhar pra sua mulher ele olhou. Por que você partiu pra cima dele'. E o sujeito ensinou:' Pato quieto na lagoa tá afim do cú da gansa.'"E nosso compositor completou sua narrativa: "Isso é muito Zona Norte!".
Existe distinção entre educar e instruir?
A distinção existente entre o que é educar e o que é instruir não surge do nada. Podemos encontrar quem afirme que a amplitude do processo de educar atinge o ser humano no seu âmbito geral, enquanto o ato de instruir visa à transmissão do conteúdo de alguma disciplina. Mas, afinal, existe de fato esta distinção entre educar e instruir?Ao analisarmos a questão, percebemos que educar e instruir realmente diferenciam-se, apesar desta diferença ser mínima aos olhos da grande população. Como diz Egídio Schmitz (1993, p. 18): "Educar não é apenas ensinar alguma coisa". Educar é a melhor maneira de dar continuidade à vida. É plantar a semente. É abrir os olhos. É a chave da porta quando estamos presos do lado de dentro. Ao mesmo tempo, instruir é passar adiante o conhecimento. É fazer com que seu próximo adquira uma nova informação.Apesar desta divergência, ambas têm papel importante na educação. E por mais que saibamos que qualquer tentativa de fixar uma definição para educação seja um erro, cada um de nós possui seu próprio conceito sobre este processo, como por exemplo, concluir que a educação é o caminho que leva a pessoa à vida social apresentando-lhe o conceito de cidadania e tendo como meta o polimento do espírito.
Relação atleta-impresa-escolaridade.
Até que ponto a baixa escolaridade da maioria dos jogadores de futebol influencia a relação atleta-imprensa? O fato dos jogadores de futebol tornarem-se repetitivos deriva da falta de variedade de indagações vindas do jornalista?O jogador de futebol, por ser figura pública, está sempre em contato com a imprensa. E é pela imprensa que a sociedade faz idéia da personalidade em questão. Ela molda uma imagem da pessoa através dos meios de comunicação. O atleta, tendo conhecimento de sua baixa bagagem cultural, sente-se intimidado e , para ele, é melhor usar sempre as mesmas expressões (mas sabendo o que está dizendo) do que arriscar com uma nova possibilidade e acabar falando algo que poderá manchar sua imagem diante do meio social.A repetição de expressões usadas pela maioria dos jogadores de futebol vem da certeza dos atletas em saber o que estão dizendo. A falta de originalidade das perguntas feitas também ajuda para tal acontecimento. Mas se um jornalista faz uma questão sobre algo que não esteja ligado ao futebol, a maioria dos atletas responde a indagação usando o mesmo método usado no seu esporte.O objetivo do presente estudo é avaliar até que ponto o pouco estudo influencia a maneira como a maioria dos jogadores de futebol lida com a imprensa, sendo eles pessoas públicas.
O que você acha do vestibular?
O vestibular é um assunto que vem sendo muito discutido ultimamente, tanto no âmbito acadêmico quanto nos cursinhos pré-vestibulares. Todos têm uma opinião a respeito. Uns a favor, outros contra, e ainda há aqueles que sonham com o vestibular sendo realizado de outra forma. Enfim, opiniões não faltam.A principal crítica feita ao vestibular, como forma de seleção dos candidadtos à escola superior, é que ele favorece, muitas vezes, os alunos que tiveram a chance de estudar em boas escolas. Já os que o defendem, alegam que o vestibular é válido para que somente alunos realmente capacitados possam ingressar na faculdade. E os que idealizam um novo vestibular, ou seja, um novo método, ficam mesmo no mundo das idéias de Platão.Nos três exemplos de pessoas com opinião sobre o vestibular, é fácil perceber como o ser humano vai pelo caminho que mais convém a ele próprio. Os que idealizam, nunca põem os pés na realidade. Os que vêem o vestibular como um meio de elevar o níveo universitário, ao menos, enxergam a questão pelo ponto de vista de que é preciso empenho e dedicação para triunfar. Isto é o que os que colocam a culpa na questão econômica nunca mencionam. Se fosse assim, quem escreve estas pobres linhas nunca teria chegado à faculdade.
Leitura do filme "Ilha das flores", de Jorge Furtado.
O filme trata de um lugar no Rio Grande do Sul chamado Ilha das flores, onde as pessoas têm como alimento as sobras do lixo que é direcionado aos porcos. Eis o tema da obra. Entretanto, é interessante notarmos todo o processo por qual passa a estória para chegar ao seu denominador comum.Antes mesmo do filme começar, algumas frases são mostradas. A primeira é: “Este filme não é uma ficção”. Tal sentença deixa claro que o que será mostrado a seguir é real. Por mais chocante ou grotesco que seja, trata-se de um fato verídico. A segunda frase é: “Existe um lugar chamado Ilha das flores”. Esta frase já tem como objetivo despertar o interesse do espectador. Qual o interesse em saber que existe este lugar? O que acontece lá? Estas são perguntas que surgem em razão de tal sentença. Já a terceira e última antes do início do filme é: “Deus não existe”. Tal frase ataca o que é certeza para muitos. Ainda mais sendo uma afirmação. E mais uma vez o espectador pergunta-se: Por que este tipo de coisa é dita? Por que atacar uma certeza absoluta de tantas pessoas? Após estas frases, o planeta Terra é mostrado do espaço sideral ao som de “O Guarani”, música de Carlos Gomes, o primeiro brasileiro (mulato) a fazer sucesso na Europa. Tal canção é considerada um marco, um símbolo de orgulho para a República Federativa do Brasil. Tendo esta música de fundo, nosso planeta é envolvido pelo nome “Ilha das flores”, como se o filme quisesse que o mundo inteiro descobrisse a existência deste lugar e o que acontece por lá. A partir de então, inicia-se o filme.Podemos perceber que, mesmo tendo um tema sério para ser tratado, existe a tendência de se falar do caso com humor através da repetição de explicações sem precisar utilizar-se de melodrama. Tenta-se sensibilizar o espectador pelas metáforas, por exemplo, apresentadas no discurso. Também vale a pena notar a generalização que é feita. Muita coisa é dita, explicada e mostrada para, no fim, chegar ao problema da Ilha das flores.O narrador começa dando a localização exata de onde está e dizendo que há um japonês (Sr. Suzuki) numa plantação de tomates. Ele define o japonês como um ser humano, que por sua vez “destingue-se dos outros animais principalmente por causa do tele-encéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor”. O narrador continua sua sequência de explicações falando sobre o tele-encéfalo. “Ele permite ao ser humano armazenar informações, relacioná-las, processá-las e entendê-las”. Já o polegar opositor “permite o movimento de pinça nos dedos, o que nos permite a manipulação de precisão”. Através da voz do narrador e de imagens, prova-se que “graças ao tele-encéfalo altamente desenvolvido combinado com o polegar opositor, o ser humano pôde fazer muitas coisas para melhorar seu planeta...”. Enquanto tal afirmação é dita, imagens históricas de monumentos romanos e gregos são mostradas como prova daquilo que está sendo falado. Entretanto, quando o narrador está prestes a terminar sua frase com “...inclusive...”, mostra-se a bomba atômica em seu momento de êxtase. O narrador fica em silêncio para que o som da bomba faça-se perceptível. Esta passagem expressa claramente a idéia de que nem tudo o que o ser humano cria é bom. Sua mesma capacidade para fazer coisas boas serve para fazer coisas terríveis. O caso da Ilha das Flores é uma boa citação desta última vertente. Mas o narrador, não tendo terminado aquela sua frase, termina-a dizendo que o ser humano, além de tudo que já criou e cria, também usa seu tele-encéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor para cultivar tomates. E, mais uma vez, é mostrada uma cena que comprova isto: um tomate é retirado do tomateiro.Segue-se a continuidade de definições. Para falar sobre o dinheiro que o Sr Suzuki recebe do supermercado pela venda dos seus tomates, o narrador segue a linha histórica, dizendo que o dinheiro foi criado antes de Cristo. Chegando neste assunto, afirma-se que Cristo era um judeu. O verbo ser no passado levamos a pensar que Cristo não é mais judeu. Por isso o povo judeu sentiu-se tão abandonado nas mãos dos nazistas no final da primeira metade do século XX. Isto também lembra um pouco a frase mostrada antes do início do filme: “Deus não existe”. As pessoas que vivem na Ilha das flores possivelmente têm o mesmo tipo de pensamento ao passar pela situação que passam. Voltando ao narrador que diz que Cristo era um judeu, explica-se que o judeu, num conceito geral, tem o tele-encéfalo altamente desenvolvido com o polegar opositor. “São, portanto, seres humanos”. Ao mesmo tempo que isto é dito, cenas de judeus sofrendo com o nazismo são mostradas. Nota-se que durante todo tempo essa relação entre as imagens verbais e as imagens visuais e sonoras é presente. A voz do narrador, que nunca fica mais alta ou mais baixa, faz neste momento uma pausa para dizer que os judeus também são seres humanos enquanto corpos de judeus são atirados num buraco onde outros corpos de judeus apodrecem. Um bom exemplo da capacidade do ser humano de criar coisas terríveis, como já dissemos anteriormente.Depois disto, o narrador volta-se novamente para o dinheiro. Em seguida, fala do supermercado, para chegar até Dona Anete (que, segundo o narrador, é também um ser humano por possuir um tele-encéfalo altamente desenvolvido com o polegar opositor), uma mulher que, com o dinheiro vindo de seu trabalho na venda de perfumes, foi ao mercado comprar aqueles tomates cultivados na plantação do Sr. Suzuki. Lembrando que tudo isto segue a relação do verbo, do som e da imagem. Este perfume, fonte de renda de Dona Anete, não vem das flores diretamente, mas sim de uma fábrica. O narrador fala do lucro que Dona Ante tem com a compra e venda destes perfumes e existe um ponto interessante em todo este trecho que trata do lucro: É explicado que o lucro era proibido antigamente. Porém, como sabemos, hoje em dia é livre. Mostra-se então, num mesmo quadro, o patrão sorrindo e o funcionário com uma cara como se perguntasse: “Rir? De quê? Por quê?” Mas não fica nisso. Quando foi dito que o lucro era proibido, podia-se ver uma cena onde membros da Igreja Católica Apostólica Romana tinham fisionomias sérias. Com a liberação do lucro, num outro quadro, os mesmos estavam com dinheiro na mão e com os sorrisos abertos. Nada mais humano. Cai por terra a divindade. Lembra-se da frase “Deus não existe”? Ela também se encaixa aqui.O narrador segue sua saga explicando detalhe por detalhe a compra que Dona Anete fizera no mercado. Ela comprara, com o dinheiro do seu trabalho, tomates e carne de porco. Tudo será consumido por sua família em um dia. “Alguns tomates que o Sr. Suzuki trocou por dinheiro com o supermercado e que foram trocados pelo dinheiro que Dona Anete obteve com o lucro na troca dos perfumes extraídos das flores, foram transformados em molho para a carne de porco”. Tudo isto é mostrado rapidamente, passando-nos uma idéia de como este processo que, para muitos é complicado, acontece todo dia, toda hora.Um dos tomates é jogado no lixo por Dona Anete pelo fato dela julgar que ele “não tinha condições” de virar molho. É interessante ver que o narrador poderia dizer que este tomate em questão estava pobre, estragado, ou algo assim. Mas não. Ele simplesmente diz que, de acordo com o julgamento de Dona Anete, este tomate “não tinha condições” de virar molho. Tal vocabulário é usado por sabermos onde este tomate vai parar no final do filme. Então este tomate vai para o lixo, “que provoca doenças, além do aroma ser desagradável”. O narrador segue falando sobre o lixo: “Por isto, o lixo é levado para determinados lugares, bem longe, para que possa livremente sujar, cheirar e atrair doenças”. A partir daqui começa a ser mostrada a Ilha das flores, porém, sem isto ser dito. O que apenas vemos é um lixão e o caminhão de lixo chegando com crianças correndo atrás dele. É a alegria de ver a comida chegar. Caminhão este que traz não só o tomate que “não tinha condições” de virar molho de Dona Anete, como outros lixos vindos de outros lugares. “Em Porto Alegre, um dos lugares escolhidos para que o lixo cheire mal e atraia doenças chama-se Ilha das flores” Com esta frase, o narrador quebra o encanto. Quando falamos de ilha, lembramos de cenários paradisíacos, gente bonita divertindo-se. Ainda mais numa ilha chamada Ilha das flores. Porém, aqui, o que vemos é o retrato do grotesco. Por mais que a definição de ilha aplique-se ao lugar, “ilha é um monte de terra cercada por água por todos os lados”, o que realmente cerca toda aquela gente é pobreza e desigualdade. Enquanto o lugar é mostrado, com sua água cercando-o, uma música de fundo transmite um sentimento ruim. Como se uma grande decepção tivesse acontecido. Uma das frases que aparecem antes do início do filme é: “Existe um lugar chamado Ilha das flores”. Esta frase despertava a curiosidade do espectador em saber o que era esta ilha. Uma ilha só de flores? Uma ilha de diversão? Uma ilha de descanso? Não. Uma ilha cheia de lixo onde as crianças correm atrás do caminhão de lixo felizes por saber que terão sua comida. Esta é a decepção. E o encanto do espectador dá lugar à revolta do mesmo. Já o narrador continua explicando, como se nada tivesse acontecido, o que é água, o que são flores. O que sobra de lixo, falta de flores na Ilha das flores. Neste lixo, está o tomate que Dona Anete jogou no lixo. O narrador fala dos porcos que existem no lugar, pois é pra eles que vai este tomate. Porcos estes que têm um dono. Um dono que tem dinheiro, um terreno (mostra-se o contrato do terreno, seguindo a linha da comprovação pela imagens) e empregados. Agora podemos perceber que a prioridade do lixo é dos porcos, pois este terreno (onde o lixo é posto) é cercado para que os porcos não saiam e as pessoas não entrem. Apesar desta inversão de valores, o narrador segue com sua voz inalterada. E o texto continua sem adjetivar tais acontecimentos. O lixo julgado adequado pelos empregados para os porcos do patrão são separados. O que é considerado inadequado para os porcos é usado na alimentação de mulheres e crianças. O narrador explica que mulheres e crianças são seres humanos por possuírem o tele-encéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor... e nenhum dinheiro. O dinheiro é o que faz a diferença entre estas pessoas e o dono dos porcos. É por causa do dinheiro que ele é o dono dos porcos, o dono do terreno e o patrão dos empregados que priorizam seus porcos e deixam para segundo plano as pessoas da Ilha das flores. Estas pessoas não têm quem as priorize, não têm um dono. Os porcos, sim. Separadas em grupos de dez, elas só têm cinco minutos para pegar seu alimento, enquanto os porcos comem o que podemos chamar de “o melhor do pior”. Quando o narrador explica a duração de cinco minutos, o click do relógio faz-se perceber além de passar uma angústia. O tempo passa e aquelas pessoas têm que pegar logo sua comida. No término do tempo, elas são retiradas do terreno. Caso o tomate do Sr Suzuki que Dona Anete jogou fora não tenha sido separado para os porcos, ele estará disponível para os seres humanos da Ilha das flores. Mostra-se a placa do lugar para reafirmar o assunto principal do filme.Na parte final do filme, a mesma canção (O Guarani, de Carlos Gomes) volta a ser tocada. Entretanto, desta vez, ela é executada por uma guitarra distorcida. Depois de ser mostrada a Ilha das flores e sua real situação, esta distorção nos remete ao protesto. Um protesto tendo como base a distorção de uma guitarra nos remete à Jimi hendrix, considerado o maior guitarrista de todos os tempos, elevando até o último volume sua guitarra (como sempre fazia) ao executar o hino nacional americano no festival de música Woodstock. Era a época da guerra do Vietnã. E para mostrar seu descontentamento com a guerra, Hendrix pegou o símbolo maior dos Estados Unidos e o deturpou completamente, levando os jovens presentes (que também eram contra a guerra) à loucura. Este meio de protesto existe na parte final da Ilha das flores. O Guarani, um símbolo nacional, é “dilacerado” pela guitarra distorcida. E tendo esta música dentro deste formato como pano de fundo, o narrador diz que “o que coloca o ser humano da Ilha das flores depois dos porcos na prioridade da escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro, nem dono”. E ainda completa lembrando que todo ser humano caracteriza-se por ter o tele-encéfalo altamente desenvolvido, o polegar opositor e por ser livre. Essa falta de liberdade é que faz com que as pessoas da Ilha das flores não sejam vistas como seres humanos. E o conceito de liberdade é muito bem descrito através de uma citação de Cecília Meireles do livro “Romanceiro da Inconfidência”: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
A famosa dentadura do seu Geraldo.
Como em época de Copa do Mundo o Brasil pára, estávamos lá, parados, na Alzirão, famosa rua do bairro da Tijuca, assistindo a mais um jogo da nossa seleção. Marcelo, Marcos, o avô do Marcos, seu Geraldo e eu, os quatro no meio daquela multidão. Brasil contra Turquia. Os turcos logo fizeram o primeiro gol, o que desmotivou a torcida presente. Mas seu Geraldo não perdia a esperança. Dizia que a seleção viraria a partida. Não deu outra: o Brasil empatou. Seu Geraldo fora o primeiro a gritar gol, e eu só vi sua dentadura sair da boca e levantar vôo de tal forma que parecia coisa de desenho animado. Enquanto a dentadura aterrisava, a torcida pulava com o gol. Seu Geraldo ficou desesperado atrás de sua dentadura. Marcos, Marcelo e eu ficamos comovidos com aquela situação. Procuramos no meio da multidão e nada. Quase no final, ainda procurávamos pela dentadura. De repente, mais um gol da nossa seleção. Nossa torcida voltou a mostrar seu entusiasmo e nós, nossa raiva.Fim do jogo: o Brasil venceu a partida, nós perdemos o jogo e seu Geraldo, a dentadura.
Eu sou normal!!!
O céu está nublado. Não faz calor nem frio. Tempo ideal para sair por aí. Dirigo com a janela aberta. O vento no rosto dá uma baita sensação de liberdade. Ah, que delícia de liberdade!O sinal fechou, eu parei. Olhei para minha direita e vi um sujeito de meia-idade com o dedo no nariz sem cerimônia alguma. Estava tão concentrado na sua limpeza que a qualquer hora poderia retirar seu cérebro ali mesmo. Enfim, deixei o cidadão em paz e virei-me para esquerda. Encontrei uma senhora maquiando-se na infinita e cega esperança de aparentar seus vinte anos já distantes. Era tanto pó na cara que, mesmo eu estando um pouco distante, cheguei a tossir algumas vezes. Entre uma tossida e outra, vi pelo retrovisor que atrás de mim havia uma menina que cantava uma música ( que não consegui identificar) como se estivesse no chuveiro de casa tomando um banho gelado num dia quente de verão.Depois de presenciar tudo isto, senti-me como o único ser humano normal sob a face da Terra! Eu apenas estava ali esperando tranquilamente o sinal abrir. Somente isto.Com o trânsito autorizado a seguir em frente, retornei à realidade. Voltei a ser Jorge, o louco que acabara de fugir do hospício furtando a ambulância da instituição.
Chuva III
Além dos problemas comuns às grandes cidades, São Paulo tem-se preocupado muito com as chuvas torrenciais que vêm castigando a metrópole paulista nas últimas semanas, como se o trânsito caótico e a violência urbana não bastassem.Segundo as autoridades, o que tem chovido (nas últimas duas semanas) corresponde ao que choveu durante o ano passado inteiro. E a tendência é que esta chuva não pare tão cedo. Por isso, foi implantada a "operação dilúvio" - que consiste em informar a população sobre locais de risco e mostrar como proteger-se das fortes chuvas.É claro que a ajuda das autoridades é importante. Porém, os paulistas rezam é por uma ajuda divina. Alguns nem lembram mais o que é um dia de sol.
Chuva II
Não é lenda. Carioca odeia chuva. A maioria da pessoas não gosta, é verdade, mas quem nasceu na cidade do Rio de janeiro tem seus motivos para (mais do que não gostar) odiar chuva: é a praia vazia, a pelada do final de semama adiada, as pessoas presas em casa,... ou seja, razões não faltam para tal sentimento.Devido a esta constatação, estudantes de Sociologia da UFRJ, por conta própria, fizeram uma pesquisa para descobrir que tipo de chuva os cariocas detestam mais e o porquê desta opinião. Ao final, viu-se que a chuva fina com vento forte é aquela que mais tira os cariocas do sério pelo fato de ser um tipo de chuva que demora a passar. Fora o vento, que faz os cariocas dizerem que a chuva é "chata".Ou seja, os cariocas até suportam uma chuva forte, desde que ela não dure nem cinco minutos.
Chuva I
A cidade de Belém do Pará possui atrativos que, cada vez mais, despertam o interesse de turistas nacionais e internacionais. Porém, aquele que chega procurando bares, museus e belos atrativos sempre vai embora falando mais da chuva de Belém do que de qualquer outra coisa, por mais estranho que isto possa parecer.A fama desta chuva é grande. Quem é de Belém, já sabe. Quem chega, passa a saber. O curioso é perceber a razão de tanto sucesso. Todo dia chove em Belém, e na mesma hora, por volta das 17 horas. E não é apenas isso: as pessoas marcam seus compromissos de acordo com a chuva, ignorando as horas. O sujeito não diz que estará lá às 18:30 e sim que estará lá depois da chuva.Eis o poder da chuva de Belém do Pará. Uma chuva que vem todo dia, na mesma hora e que é o referencial de toda uma cidade.
Primeiro dia de faculdade.
Do pouco que conheço do sujeito que está sentado a meu lado, seu nome faz parte da lista das coisas sobre ele que ainda descobrirei. Questão de tempo, convivência.Por falar em tempo, eis algo que ele deve ter de sobra. Toda vez que chego para a primeira aula, lá está o cidadão esperando o professor adentrar a sala como se lá tivesse dormido desde a última aula do dia anterior. Sempre com sua fiel e inseparável mochila, fulano (prometo aprender seu nome) chega com todos os trabalhos de casa feitos e ainda ajuda os que nada fizeram (olha eu aí!).Ele apresenta-se como um ser humano calmo, tímido, cheio de vergonhas. Estes são os piores!
Avanços e atrasos
A independência feminina é notória. Inegavelmente, a importância da mulher dentro do mercado de trabalho cresce a cada dia. Espaços, até então inatingíveis, são conquistados com capacidade e competência. Porém, esta busca, que iguala homens e mulheres, também traz problemas.De acordo com a pesquisa realizada pela organização não-governamental MEM (Mulher por Ela Mesma) - que visava descobrir o principal motivo que leva um adolescente de classe média-alta a entrar na criminalidade - 70% deste fato deve-se à falta da presença do pai ou da mãe no dia-a-dia do filho. Com ambos trabalhando (antes a mulher tomava conta da casa e da educação da criança), os amigos tornam-se, para o jovem, a voz a ser ouvida e, muitas vezes, estes amigos não são tão amigos assim. Na mesma pesquisa, constatou-se que 20% deste desvio tem origem na impunidade e 10% no interesse em sentir o proibido.Com este estilo de vida que a mulher possui nos tempos modernos, é sempre bom ter em mente que uma conquista não pode significar a perda de parte de uma geração.
A lição
Mais uma manhã de terça-feira. Uma tranqüila manhã por ser um feriado desses que decoram lindamente nosso calendário. Uma manhã ensolarada cujos frágeis raios solares invadem um pequeno apartamento localizado no bairro das Laranjeiras. Nele encontra-se seu dono, o escritor Senegóid Ramos, colunista do jornal Palavra livre. Homem de meia-idade, sempre de bem com a vida e que sabia como tratar as palavras, Senegóid era um exemplo dentro do seu campo profissional. Porém, naquele feriado, acordou apreensivo. Era dia de escrever sua coluna (que sai toda segunda e quarta). Nada demais, se seu computador não estivesse no conserto. Sendo assim, o escritor não teve outra opção: sentou-se à mesa, voltou a sentir aquele cheiro de papel de caderno escolar, desencavou uma velha caneta Bic esquecida no fundo de uma das gavetas do seu armário e a empunhou para, naquele universo branco, expor sua caligrafia há tempos escondida. Entretanto, não passou da segunda linha. A caneta começara a falhar para seu desespero. Senegóid revirou o apartamento inteiro atrás de uma caneta, fosse ela preta, azul, verde, amarela, rosa, vermelha... o importante era escrever sua coluna. No meio da bagunça, ele parou e lembrou de alguns dias atrás, quando passou em frente a uma papelaria e pensou em comprar uma caneta para retornar ao velho hábito de exercitar sua escrita da forma mais habitual. Não comprou por depender do computador para produzir sua coluna. Deu o que se deu.Senegóid foi ficando cada vez mais nervoso. De tanto roer os dedos das mãos, machucou-se e , com sangue, pensou na possibilidade de escrever com seu próprio sangue. Logo em seguida, lembrou dos vizinhos. Os vizinhos? Todos estavam viajando. Não havia para quem pedir socorro. Lembrou-se, então, do seu primo Arístoles que tinha um computador. Entrou em contato com ele e, pelo telefone, ditou sua coluna para o primo que, após escrevê-la, enviou-a para a redação do jornal.No final, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Mas nem por isso Senegóid deixou de comprar várias canetas e blocos no dia seguinte e voltar a escrever de próprio punho e por conta própria.
Um dos únicos bens que a miséria não extingue é a solidariedade.
Apesar de tanta pobreza, percebe-se que a solidariedade é um dos únicos bens que a miséria não extingue, pois ela independe do nível sócio-econômico das pessoas. São nos exemplos de Jesus Cristo, São Francisco de Assis e Madre Tereza de Calcutá, entre outros (gente que, mesmo sem recurso financeiro, ajudou, e muito, a humanidade), que algumas pessoas se espelham nos dias de hoje.Quando fala-se sobre alguém que possui verba disponível para ajudar quem realmente necessita, é possível sentir uma obrigatoriedade no ar. Não com aquele que precisa, mas consigo. É a obrigação do cidadão. Não em ser solidário ao outro, mas em construir sua própria imagem perante a sociedade. Para este tipo de ser humano, pouco importa quem será ajudado e como esta ajuda será feita. O que vale é, no fim de tudo, poder dizer que fez sua parte.Enquanto uns distorcem as lições deixadas por Jesus, São Francisco, Madre tereza e companhia, outros seguem fielmente seus exemplos. Pessoas pobres que, mesmo beirando a miséria, sempre ajudam aquelas que estão na mesma situação ou piores até. Nesta espécie de solidariedade não há má vontade, não há obrigação nem falsidade. O que há é o ato de ser solidário na sua inocência, na sua mais bela forma.Como é possível ver, a solidariedade não depende de ter ou de não ter como ajudar. Ela é um dos sentimentos mais humanos, tanto quando visa o bem do próximo como quando busca, com tal atitude, interesses próprios.
Cíntia "Cidadões"
Eu fui testemunha ocular do fato. Ninguém me disse, eu estava lá, naquela conceituada unidade de ensino, com estes olhos e principalmente com estes ouvidos que identificaram o acontecido.Eu era mais um entre os quarenta e dois alunos daquela sala situada no terceiro andar do Colégio Futuros Cidadãos. O ano? 1997. Como todo colégio e toda sala de aula, cada aluno tinha características marcantes: havia o esportista, o músico, o puxa-saco... e lógico, o inteligente, que no caso era a inteligente. Seu nome? Cíntia. Menina estudiosa que dava show tanto para sanar alguma dúvida própria quanto para explicar o que ela já entendera. Mas, explicar o quê se ela era aluna e não professora? Isto era algo que manchava sua imagem diante da turma e até de alguns professores. Às vezes o assunto nem era com ela, porém sempre dava um jeito de mostrar o que achava. Uma menina até bonita mas que, devido a este jeito de ser, caiu em desgraça culminando num dia histórico.Mais um dia de aula. Estou eu sentado no fundo da sala (normal) enquanto Cíntia encontra-se praticamente colada à mesa da professora. Aula de História vai, aula de História vem e Cíntia tem uma dúvida. Professora Ana, que já conhecia a fama da menina mas até gostava, foi toda ouvidos:- Ana, eu estou com dúvida em relação ao meio de vida dos CIDADÕES brasileiros do séc. XVIII. Não só eu mas toda a sala ficou olhando-se com cara de espanto. Como? A Cíntia? Falando "cidadões"? Professora Ana disfarçou mas parecia não acreditar no que havia escutado, tanto que pediu para Cíntia falar novamente qual era sua dúvida. E Ana ouviu mais uma vez aquele "cidadões" sonoro. Os promeiros risinhos começaram a aparecer (inclusive o meu) e deram origem a um meigo apelido: Cíntia Cidadões.Demorou mais de uma semana até Cíntia perceber seu apelido e a razão do mesmo. De repente, ela viu o colégio inteiro chamando-a de Cíntia Cidadões. Até hoje pergunto-me como ela não lembrou do nome do colégio (Futuros Cidadãos) antes de soltar aquela pérola. Uma pérola que não a deixou nem um pouquinho mais bonita.
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