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terça-feira, 6 de novembro de 2007

A lição

Mais uma manhã de terça-feira. Uma tranqüila manhã por ser um feriado desses que decoram lindamente nosso calendário. Uma manhã ensolarada cujos frágeis raios solares invadem um pequeno apartamento localizado no bairro das Laranjeiras. Nele encontra-se seu dono, o escritor Senegóid Ramos, colunista do jornal Palavra livre. Homem de meia-idade, sempre de bem com a vida e que sabia como tratar as palavras, Senegóid era um exemplo dentro do seu campo profissional. Porém, naquele feriado, acordou apreensivo. Era dia de escrever sua coluna (que sai toda segunda e quarta). Nada demais, se seu computador não estivesse no conserto. Sendo assim, o escritor não teve outra opção: sentou-se à mesa, voltou a sentir aquele cheiro de papel de caderno escolar, desencavou uma velha caneta Bic esquecida no fundo de uma das gavetas do seu armário e a empunhou para, naquele universo branco, expor sua caligrafia há tempos escondida. Entretanto, não passou da segunda linha. A caneta começara a falhar para seu desespero. Senegóid revirou o apartamento inteiro atrás de uma caneta, fosse ela preta, azul, verde, amarela, rosa, vermelha... o importante era escrever sua coluna. No meio da bagunça, ele parou e lembrou de alguns dias atrás, quando passou em frente a uma papelaria e pensou em comprar uma caneta para retornar ao velho hábito de exercitar sua escrita da forma mais habitual. Não comprou por depender do computador para produzir sua coluna. Deu o que se deu.Senegóid foi ficando cada vez mais nervoso. De tanto roer os dedos das mãos, machucou-se e , com sangue, pensou na possibilidade de escrever com seu próprio sangue. Logo em seguida, lembrou dos vizinhos. Os vizinhos? Todos estavam viajando. Não havia para quem pedir socorro. Lembrou-se, então, do seu primo Arístoles que tinha um computador. Entrou em contato com ele e, pelo telefone, ditou sua coluna para o primo que, após escrevê-la, enviou-a para a redação do jornal.No final, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Mas nem por isso Senegóid deixou de comprar várias canetas e blocos no dia seguinte e voltar a escrever de próprio punho e por conta própria.

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